Resenhas

Genesis Owusu – STRUGGLER

Ampliando as possibilidades sonoras da estreia, segundo disco do artista ganês-australiano é um mergulho existencial pelos absurdos da condição humana

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Ano: 2023
Selo: OURNESS
# Faixas: 11
Estilos: Pós-Punk, R&B
Duração: 38'
Produção: Andrew Klippel e Dave Hammer

Dois anos depois de uma impactante estreia, com o ótimo Smiling With No Teeth, Genesis Owusu está de volta com seu segundo álbum, STRUGGLER. Este registro aprofunda alguns aspectos de seu debut, principalmente em sua expressividade vocal e na alquimia de gêneros, mas também abre novas possibilidades para sua música sempre expansiva – e talvez o elemento mais notável seja a maior sensação de foco. Enquanto a obra de 2021 mostrava um músico iniciante atirando para muitos lados (e acertando muitos deles), aqui vemos um artista que parece saber melhor onde quer chegar, seja conceitualmente, seja instrumentalmente.

No campo das ideias, Smiling With No Teeth discutia temas como racismo e depressão. Já em Struggler essas pautas reaparecem dentro de um novo paradigma. O músico ganês-australiano usa de existencialismo, absurdismo e niilismo para abordar a complexidade de questões inerentes à experiência humana – explorando a exaustiva sensação de se esforçar constantemente para uma recompensa que nunca parece chegar, a perda de fé e sentir-se apequenado frente aos obstáculos do caminho. Tudo isso vem sedimentado em algumas obras literárias, seja Esperando Godot, de Samuel Beckett (citada na faixa “Tied Up”) ou ainda em A Metamorfose, de Kafka, de onde parece vir a inspiração para o personagem principal da obra, The Roach.

O conceito que amarra as 11 canções lida com a natureza avassaladora da vida e com a constante sensação de estar sobrecarregado, mas também sugere formas de tentar lidar com essa falta de controle – spoiler: Genesis nunca chega a uma conclusão sobre como readquiri-lo; ele parece mais inclinado a aceitar o descontrole e a aleatoriedade como fatores inescapáveis. “The Roach” apresenta a pequenez do personagem principal da obra, enquanto “The Old Man” pinta Deus como alguém quase sádico. Essa “batalha” segue por toda a obra como fio narrativo das canções.

Musicalmente, o álbum expande a natureza já abrangente de Smiling With No Teeth, juntando elementos de pós-punk, R&B, rap, funk e new wave. Ainda assim, o projeto se mantém coeso – muito por conta das guitarras se estabelecerem como centro gravitacional. Ainda que haja muitas homenagens ao Prince e outros ícones do R&B, STRUGGLER é um disco mais roqueiro, inclusive canções como “Balthazar” e “The Old Man” até se aproximam da sonoridade indie do Bloc Party, além de “Stay Blessed”, que segue por um caminho bem pós-punk. Mas também há espaço para algo mais pop, seja com “Tied Up!” e seu groove pegajoso, ou com “That’s Life (A Swanp)” e sua pegada quase disco. São escolhas assim que criam um balanço interessante entre a profundidade lírica e intensidade dos grooves.

No meio da crise existencial na qual o álbum nos joga, Owusu nos guia por um labirinto emocional que não exatamente desemboca em uma saída – mas pelo menos temos a certeza que de que o caminho oferece alguma diversão. STRUGGLER não é apenas um mergulho introspectivo na reflexão existencial, é uma constatação do absurdo que é estar vivo. E em meio às prisões da condição humana, há encontros com o conforto e a paz espiritual.

(Struggler em uma faixa: “Leaving The Light”)

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ARTISTA: Genesis Owusu

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts