No mundo da música é comum nos depararmos com álbuns conceituais . É de costume que eles nos passem uma mensagem em narrativa, uma teatralização, ou uma viagem musical que busca novos horizontes e gera um novo modelo de se enxergar a obra. Entretanto, criar um álbum desses não é uma tarefa fácil. O artista pode errar a mão em algum, ou alguns, ingrediente e tornar uma obra que tinha potencial em uma obra enjoativa, maçante, e meio perdida. Infelizmente é o caso de The Argument, novo álbum de Grant Hart.
Podemos dizer que a intenção do ex-baterista da Hüsker Dü parece ter sido as melhores possíveis: um álbum que misturava o Rock alternativo de raiz com algumas experimentações instrumentais. Porém, com 20 faixas, e todas elas com durações “comuns”, por assim dizer, resultou em uma obra de cerca de uma hora e vinte de duração e muitas extensões desnecessárias de instrumentalizações acompanhadas de repetições tanto nesse quesito quanto em versos nas canções.
Fazer um álbum composto por várias faixas não é um erro, basta utilizar interlúdios, músicas mais curtos e diretas -como visto Honey Locust Honyk Tonk de Robert Pollard -, ou trazer a obra em disco duplo – como em With Love de Zomby – , ou , simplesmente guardar cerca de metade das canções – que diga-se de passagem quase todas são de qualidade relevante – e apresentá-las em um disco futuro.
Agora ao se falar das composições em si, essas possuem sim boa qualidade musical. Vale ressaltar que tais são baseadas em Paradise Lost, poema de temática bíblica escrito no século XVII pelo poeta inglês John Milton. Percebe-se tais relações ao vermos até mesmo os títulos das canções de The Argument, como Sin (Pecado), So Far from Heaven (Tão Longe do Paraíso), Underneath the Apple Tree (Debaixo da Macieira), e War in Heaven (Guerra no Paraíso). A temática de mostrar o processo de saída de Adão e Eva do Paraíso, apos contrariarem a ordem de Deus é uma temática muito interessante de se abordar, e, se fosse melhor dosada por Hart, traria um resultado ainda melhor, pois, infelizmente, temos de observar em uma visão micro para não tornar a obra cansativa e assim enfraquecer a beleza de seu conceito.
