Alavancado pelo estrelato que conquistou ainda adolescente como membro da boyband One Direction, Harry Styles agora brilha na posição de entertainer e influencer na sua carreira solo. Só em 2019, o artista esteve diante dos holofotes em inúmeros eventos: foi um dos apresentadores do MET Gala, o garoto propaganda de um perfume da Gucci, o convidado especial do programa Saturday Night Live, entre outros. Fine Line, o segundo álbum do artista, triunfa, mais do que estritamente pela música que apresenta, por mostrar um artista tão seguro de si mesmo fazendo o que faz.
Entre os singles lançados como prévia do álbum estava a faixa “Adore You”. A música, de baixo pulsante e timbres iridescentes, traz uma letra apaixonada e devocional. O seu clipe, por sua vez, mostra Harry Styles como o messias carismático de uma minúscula cidade britânica, onde todos são ranzinzas. Seu melhor amigo é um peixe, que ele resgata em um dia especialmente deprimido, e passar a carregar consigo.
Se tem alguma coisa que Harry Styles parece não demonstrar, é que se sente um peixe fora d’água. Enquanto fazia parte do One Direction, o artista declarou se sentir sob constante pressão: “Eu vivia constantemente com medo de cantar uma nota errada. Eu sentia muito o peso de não poder errar”. Agora, ao contrário, percebe “que os fãs me deram um ambiente para ser eu mesmo, crescer e criar esse espaço seguro para aprender e cometer erros” Este espaço de segurança parece uma excelente maneira de descrever Fine Line, que joga dentro de um ambiente protegido, construindo um Pop Eletrônico carismático e de letras identificáveis.
De acordo com Styles, Fine Line “é sobre fazer sexo e se sentir triste”. Na verdade, as músicas do disco não vão mostrar muito da intimidade do músico. Através delas, conhecemos apenas aquilo que já havíamos visto em qualquer outro evento social: uma figura extrovertida, solar e carismática. A produção, que busca inspiração na música dos anos 1970, cria uma clima favorável para que isso aconteça, armando ambientações que refletem uma recém-descoberta Califórnia por uma personagem hedonista, satisfeita e diletante.
Quando dá entrevistas, o artista cita nomes e dá a entender quais foram as suas influências para a composição de Fine Line: ao defender aventuras fora da zona de conforto, se diz inspirado por “uma entrevista de David Bowie”; ao contar do processo de gravação, diz que “tomava cogumelos, deitava na grama e ouvia Paul McCartney ao amanhecer”; ao citar a dissolução de sua banda anterior, faz uma analogia com o Fleetwood Mac: “só porque eles brigam, não significa que eles não são incríveis”.
No fim, ao ouvir Fine Line fica evidente a tentativa de resgate da aura dos anos 1970, mas o resultado é mais contemporâneo, como se Mark Ronson tivesse produzido uma parceria entre Bruno Mars e Bon Iver, em um álbum energético e que não se preocupa em atentar demasiadamente para uma coisa só. Fine Line é um álbum divertido e diplomático, recheado de referências de bom gosto, mas que se preocupa majoritariamente em reafirmar a importância de Harry Styles enquanto celebridade.
(Fine Line em uma música: “Adore You”)