Resenhas

Helado Negro – PHASOR

Em oitavo álbum de estúdio, Roberto Carlos Lange cria emoção, humanidade e calor a partir de sonoridades totalmente sintéticas

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Ano: 2024
Selo: 4AD
# Faixas: 9
Estilos: Eletrônico, Avant-Pop
Duração: 35'
Produção: Roberto Carlos Lange

A centelha criativa de PHASOR, oitavo disco de Roberto Carlos Lange sob a alcunha de Helado Negro, vem de uma visita à Universidade de Illinois, onde ele passou algumas horas com o Sal-Mar, sintetizador criado em 1969 pelo compositor clássico Salvatore Martirano. Esse é um daqueles instrumentos gigantes (que literalmente ocupam uma sala toda) responsáveis pela revolução na música eletrônica, com todos os experimentos pioneiros de blips e blops ecoando dessas máquinas.

Esse poderia ser um disco de Roberto no “modo nerd”, explorando cada timbre possível, mas a premissa não é essa. É, na verdade, um disco demasiadamente humano – explorando ruídos eletrônicos a fim de tirar o máximo de humanidade deles. Tecnicamente, o álbum traz loops e repetições como base criativa (seja na parte instrumental, nas melodias e até mesmo nas letras) e, através dessas células, mistura o som dos grandes osciladores do Sal-Mar a uma instrumentação já ouvida outras vezes na obra do músico (como bateria, baixo, piano e guitarra).

Isso pode ficar claro já na abertura, “LFO”, cujo nome é um termo usado no mundo dos sintetizadores para designar um oscilador de baixa frequência (low frequency oscillator), mas que é traduzido como “Lupe Finds Oliveros”. Trata-se de um tributo a Pauline Oliveros ícone da composição eletrônica, e Lupe Lopez, mexicana que durante os anos 1950 ficou conhecida como “deusa da soldagem” por conta de seu trabalho brilhante em amplificadores Fender. O afeto transforma essas passagens eletrônicas em algo orgânico, vivo.

Lange cria ao longo de pouco mais de 35 minutos paisagens bem diferentes, ora mais melancólicas – em “I Just Want to Wake Up With You” sua voz parece se desfazer em meio ao ritmo cambaleante e os sintetizadores introspectivos –, ora mais ruidosas – como em “Best for You and Me”, com contornos mais saturados e distorcidos, ainda que usados de forma quase relaxante. Há ainda um toque robótico e hipnotizante, como em “Echos Tricks Me”, com seu groove mecânico e vocal lânguido.

Entre amores, intimidade e fantasia, o álbum culmina em “Wish You Could Be Here”. A faixa implode numa atmosfera completamente eletrônica, colorida e vibrante, que ganha contornos serrilhados enquanto um pulsante 808 cria uma camada rítmica irresistível. A voz de Carlos dança no meio desse turbilhão enquanto fala de um amor possível nos tempos em que vivemos. Talvez a amostra mais exuberante de como Helado Negro consegue criar calor e emoção a partir de sonoridades totalmente sintéticas.

(PHASOR em uma faixa: “Wish You Could Be Here”)

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ARTISTA: Helado Negro

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts