Resenhas

Aaron Frazer – Introducing…

Baterista do Durand Jones & The Indications faz sua estreia solo assumindo o posto de frontman com falsetes doces e ecos da fase de ouro do Soul

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Ano: 2021
Selo: Dead Oceans/Easy Eye Sound
# Faixas: 12
Estilos: Retro Soul, Rock Alternativo
Duração: 42'
Produção: Dan Auerbach

Por trás das influências do Soul tradicional e dos grooves afiados do Durand Jones & The Indications está Aaron Frazer. O multi-instrumentista, compositor e produtor musical criado em Baltimore é um dos responsáveis pelo tempero nostálgico presente nos dois discos de estúdio do grupo de Indiana, Durand Jones & The Indications (2018) e American Love Call (2019). Com Curtis Mayfield, Carole King, Al Green e Marvin Gaye como gurus musicais, Frazer não apenas é o coautor as duas obras, como também contribui com falsetes precisos e uma bateria marcante, que, somados às habilidades de seus comparsas, são capazes de nos tele transportar para um salão de dança americano dos anos 1960.

Agora, após diluir as próprias referências com o restante do grupo, ele chega com seu disco de estreia, Introducing…, lançado no dia 8 de janeiro pela Dead Oceans (Phoebe Bridgers, Bright Eyes, Khruanbin) em parceria com a Easy Eye Sound. Para o primeiro registro, Frazer uniu forças com Dan Auerbach (The Black Keys) e organizou 12 canções agradáveis e ritmadas com funks leves, toques refrescantes de R&B e as sempre presentes influências do Soul clássico. Para dar ainda mais liga à missão, o disco conta com o toque de Bobby Wood, tecladista dos Memphis Boys, que colaborou com grandes nomes do Soul durante os anos 1960, no lendário American Sound Studio.

Desde a primeira faixa, “You Don’t Wanna Be My Baby”, fica nítido que Frazer correrá (e muito bem) sozinho e fará isso amparado pelo brilho intenso do retro soul – que também guia os parceiros de banda. Para quem já havia sido tocado pela performance vocal de Frazer nas baladas presentes no primeiro disco do grupo, como o hit “Is It Any Wonder?”, vai se identificar especialmente com “Girl on The Phone”, “If I Got It (Your Love Brought It)” e “Bad News”. A última, inclusive, talvez seja a que melhor simbolize a revisitação/repaginação promovida pelo projeto.

Ao longo do repertório, o artista flerta também com Doo-wop e Gospel e, munido de vocal calmo e doce, passeia com desenvoltura por diferentes propostas. A guitarra rítmica, o baixo incansável e o som dos sopros tornam o disco, ao mesmo tempo, encorpado e despojado, sem muito espaço para letargia – mas isso não significa que ele deixe de experimentá-la. Em “Have Mercy”, por exemplo, Frazer se aconchega nas batidas do bolero para despertar no ouvinte a sensação (inigualável) de ter encontrado alguém especial, que costuma vir junto do medo de se machucar com essa paixão. Enquanto, em “Love Is”, Frazer, permeado por uma levada cativante, sussurra “Love is, what you make it / Love is, ain’t no way to fake it / Oh our hearts, they were made for breaking / Love is, anything you make it”. A bateria enérgica retoma as rédeas em “Over You”, com versos pegajosos e uma pincelada evidente da produção vinda do vocalista e guitarrista do The Black Keys.

Com o atestado de aprovação certificado pelo Durand Jones em mãos, Frazer aproveitou para explorar ainda mais seu lirismo particular, que vem envelopado por arranjos descontraídos. A sonoridade, menos musculosa que a dos companheiros de estrada, dá a Introducing… uma construção lisa, com sons nítidos, charmosos e envolventes.

A linguagem e os cacoetes do Soul dos anos 1960/1970 reverberam por todo registro e, em alguns casos, como “Lover Girl”, Frazer é capaz de emular com precisão esses sons de outrora – como sua banda já havia feito e ele próprio o fez em “My God Has A Telephone”, single lançado com o The Flying Stars Of Brooklyn NY. No fim, embora essa familiaridade pareça tamanha, o artista alça voos próprios, escapa da apropriação pálida, por conta da variedade de direções – vocais, sonoras e estéticas –, sempre arrematadas com grande talento. O que nos deixa com a expectativa que Frazer escave ainda mais essa mina de ouro de referências.

(Introducing… em uma faixa: “If I Got It (Your Love Brought It)”)

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