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Mais que um simples exercício estético, Yours Trully, disco de estreia do trio belorizontino Invisível, me parece voltar na essência do Folk e se apegar à oralidade do estilo, da construção de narrativas através da música. Para mim, esse é o principal elemento que faz a obra ser tão sincera e emotiva, no sentido de aflorar emoções, ou melhor, de criar laços com o ouvinte.
São dez faixas que misturam variados elementos do estilo sem parecer se importar com sua complexidade ou com o que remetem. Eles se agrupam de forma bem natural (e simples), se acomodando de modo a criar um ambiente amigável para as canções. Não estou dizendo que os arranjos são despretensiosos ou que ficam em segundo plano, mas que parecem não ser o centro das atenções. A luz dos holofotes está no encontro de melodias e letras, não em um ou outro polo.
O primeiro single do álbum, Friendly Fire, pode ser a faixa que melhor explique como esses elementos se manifestam na música do trio. Eles são simples – violão, banjo e gaita -, porém se fundem de maneira sofisticada, usando de uma simplicidade quase rústica. Como comparação, cabe colocar Sufjan Stevens e seu Seven Swans, disco conhecido por ter estes mesmos atributos de sinceridade e poder narrativo. Letras como “The ringing bells of the old church are still echoing in my ears/The fresh smell of the bakery mixed with the salty of my tears” aprofundam o detalhamento da história, de uma curta fração de tempo no conto de um personagem que pode ser algum membro da banda ou você ou eu.
As demais faixas não fogem a esse princípio de arranjos mais simples, ora usando também o piano(Childhood/Our House), ora usando trompete (Quiet Unquietness e The Lightness Of Being), mas sempre embarcando em uma viagem acolhedora de timbres, em sua maioria, acústicos. Esses casam-se muito bem com as reconfortantes vozes de André Travassos (Câmera), Bernardo Zanetti e Lucca Noacco, gerando um ambiente propício a nós, ouvintes, ficarmos empáticos com as histórias narradas por eles, seja a dor e raiva de Playing God With You, a paixão e delicadeza de Your Love Is A Long Road ou a doce nostalgia de Childhood/Our House.
Aqui, tudo parece muito honesto, visceral e, de certa forma, despretensioso, quase como um filme de Richard Linklater. O que se ouve é uma narrativa da vida, de pessoas vivendo suas histórias nada extraordinárias, mundanas e tão demasiadamente humanas. E talvez seja esse elemento, tão simples, que faça o ouvinte se entrelaçar com as letras e, quem sabe, se sentir na pele de um desses personagens.
