Resenhas

Josh Rouse – The Embers Of Time

Novo álbum do cantor e compositor americano mistura Pop perfeito e letras sobre crise da meia idade

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Ano: 2015
Selo: Yep Roc
# Faixas: 10
Estilos: Pop Alternativo, Rock Alternativo, Singer/Songwriter
Duração: 33:46
Nota: 4.0
Produção: Brad Jones

Estamos em 2015 e, felizmente, ainda há artistas com talento para permear suas criações de momentos barra pesada. No caso do cantor e compositor americano Josh Rouse, esta honestidade com os sentimentos é notável e parte indissociável de sua carreira. Josh tem cara de menino, mas já completou 43 anos de vida e 17 de estrada. Começou na sua Nebraska natal, correu pelos Estados Unidos até fixar-se em Nashville. Após seu casamento ruir, pegou tudo que tinha e foi para o sul da Espanha, onde conheceu Paz Suay, aquela que seria sua namorada, esposa e mãe de dois filhos nos anos seguintes. Convenhamos, não é pouca coisa na vida de um sujeito comum. O resultado destes anos passados entre continentes, idiomas, paternidade e seus devidos antônimos, trouxe uma espécie de crise de meia idade para o cotidiano de Rouse e ele se viu procurando um terapeuta em Valencia, à beira do Mediterrâneo. O resultado dessas sessões está em The Embers Of Time.

O conceito do álbum é bem simples: traduzir esse conjunto de angústias e impressões de Josh em forma de canção. Apesar de supostamente fácil, dá pra imaginar o quanto de sofrimento e reflexão foi necessário para escrever letras que dão conta de questões tão sérias como solidão, responsabilidade, passagem do tempo e mortalidade. Usamos esses conceitos como frases de efeito na maior parte da vida mas, após algum tempo, eles se intrometem no cotidiano sem pedir licença e a sensação que Rouse transmite é a de perceber que eles chegaram para fixar residência em seus pensamentos. E que não irão embora. O mais interessante do trabalho de Josh é estabelecer um contraponto musical belíssimo para tanta sinceridade dolorida. Os arranjos são luxuriantes, cheios de cordas, metais, influências do Pop Rock dourado dos anos 1970, mas com as cicatrizes adquiridas neste início de milênio, tempo tão peculiar.

Em comparação a discos de sua Fase Ibérica, The Embers Of Time ganha em coesão e qualidade das canções. As influências de gente como Harry Nilsson logo na abertura com Some Days I’m Golden All Night, mostram que Rouse tem um vasto leque de referências em seus bolsos. A homenagem velada a Neil Young surge na sintomática New Young, com ecos que remetem à fase acústica do mestre canadense em seus tempos de Harvest (1972), porém com mais riqueza melódica e criatividade nos arranjos. You Walked Through The Door conjura toques de Country clássico e ferroviário, movido a bateria de vassourinha com reflexões feitas à tardinha. A pungente Time compara e avalia a vida do pai de dois filhos com a do órfão que perdeu pai e padrasto há bastante tempo, pensando nas ironias dessa espiral chamada vida, tudo isso num clima impregnado por slide guitars, acordeão e leveza.

Uma simpaticíssima homenagem a J.J Cale (compositor de clássicos do Rock como Cocaine, falecido em 2013) surge na suingada JR Worried Blues, na qual ele questiona a própria situação de quem vive de música nos dias estranhos de hoje e, ao mesmo tempo, precisa acordar cedo para fazer com que os filhos estejam na escola às nove da manhã. Ex-Pat Blues é o somatório das sessões de terapia, do americano que vive na Espanha, com mulher e filhos espanhóis, mas que precisa manter-se vinculado às raízes da região mais central dos Estados Unidos. O fim com Cristal Falls é otimista, cheio de harmônicas e pianos saltitantes.

Josh Rouse sempre abre a porta de casa para os ouvintes de seus belos discos. Desde 1998, quando lançou Dressed Up Like Nebraska, chegando até os dias de hoje, ele sempre mostrou o que tinha para mostrar. The Embers Of Time mantém sua tradição viva, amplia seu espectro sonoro com batismo de fogo das circunstâncias e o credencia para pleitear um lugar de destaque na música americana e mundial, caso o mundo se torne um lugar mais justo a partir de agora. Faça a sua parte e venha conhecer o rapaz.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.