Resenhas

Julie Byrne – The Greater Wings

Terceiro disco da compositora americana é uma jornada dolorosa, bela e imperdível sobre perda, luto e desesperança

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Ano: 2023
Selo: Ghostly International
# Faixas: 10
Estilos: Folk
Duração: 38'
Produção: Eric Littmann, Alex Somers e Jake Falby

Dois segundos de silêncio seguidos de uma interpretação de guitarra que mostra a urgência delicada com que Julie Byrne trabalha seu terceiro álbum. Assim começa The Greater Wings, um trabalho emotivo em cada um dos elementos que o formam, da ambientação sonora tão onírica ao pesar que se percebe na voz da cantora estadunidense. Com beleza de sobra, é o tipo de disco tão cheio de coração quanto as situações que suas músicas narram.

Julie canta sobre perda, luto e desesperança, palavras frequentes em comentários de lançamentos recentes e que continuarão aparecendo por ainda algum tempo para descrever as obras compostas e lançadas neste início de década, visto que os anos 2020 começaram em uma pandemia. A artista mostra com seu trabalho o quanto entende que a universalidade desses temas é melhor desenvolvida com histórias bastante específicas, daí sua intimidade emocional ser a bússola que guia suas composições.

As nove faixas cantadas que compõem The Greater Wings trazem uma poesia embebida em saudade, relembrando cenas e sentimentos que ficaram no passado. É familiar para todos os que atravessaram essa época de tantas perdas ao redor do globo e mesmo as histórias vividas pela artista nos parecem próximas. Com sua produção iniciada em 2020, que nossa memória registrou como o momento mais aflitivo da pandemia, o álbum encontraria sua próxima reviravolta de roteiro no ano seguinte, com o falecimento de Eric Littmann – principal colaborador de Julie em suas composições, e coprodutor nesta obra.

Há uma grande tentação no ouvinte de tentar desvendar o que foi composto antes desse óbito e o que veio a partir dele, mas é um exercício tão em vão quanto tentar resistir às mudanças trazidas pela vida ou pela morte. A coesão entre as faixas está além do duo voz e violão sempre em primeiro plano, ou o tom com que as músicas foram executadas, mas na sensação constante de escutarmos do início ao fim que, como diz a escritora Natália Sousa, “saudade é o azar de quem teve sorte”.

Entre as faixas cantadas, a instrumental “Summer’s End”, bem no meio da obra, é a única no disco com Littmann entre os compositores, o que faz com que sua presença esteja no centro de tudo, acima de qualquer palavra. Julie Byrne contou com a mão certeira de Alex Somers (conhecido pelo trabalho com Jónsi) para terminar a produção de The Greater Wings, o que é uma espécie de final feliz do ponto de vista da conclusão da obra. E, a cada audição, somos brindados com aquela intensidade de beleza que só existe quando a arte não se constrange de abraçar o que recebeu da vida – e é bonita, e é bonita.

(The Greater Wings em uma faixa: “Portrait of a Clear Day”)

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ARTISTA: Julie Byrne

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.