Resenhas

Khruangbin – Mordechai

Terceiro disco insere vozes a conversas fluidas entre os instrumentos e constrói trilha sonora para momentos de contemplação

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Ano: 2020
Selo: Dead Oceans, Night Time Stories
# Faixas: 10
Estilos: Instrumental, Soul
Duração: 43'
Produção: Khruangbin, Steve Christensen

Khruangbin é um projeto do Texas de música Instrumental do qual participam Laura Lee (baixo), Mark Speer (guitarra) e Donald Ray “DJ” Johnson Jr. (bateria). Mordechai, influenciado pela música popular dos quatro cantos do mundo, é o terceiro álbum da carreira do grupo. O disco chega após uma explosão de popularidade do grupo, acontecida de maneira improvável e espontânea, depois que Jay-Z foi visto saindo de uma loja de discos carregando a discografia debaixo do braço. Em seguida, o rapper espalhou a descoberta por aí.

O som de Khruangbin é suave e fluido, quase como uma trilha sonora ambiente, um pano de fundo para momentos de contemplação. O baixo é econômico e suingado, a bateria parece dar tanta importância à textura quanto ao andamento, enquanto a guitarra, cristalina e jovial, acaba por amalgamar a massa sonora produzida pelo trio. Para além disso, a voz aparece em Mordechai, o que não havia acontecido até agora. Quando Khruangbin canta, no entanto, a melodia se confunde com a dos outros instrumentos, e reforça o aspecto difuso das músicas do grupo.

São diversas as inspirações do trio, saindo do Dub, passando pelo Afrobeat e chegando à música do Oriente Médio. O primeiro disco (The Universe Smiles Upon You, 2015), por exemplo, foi influenciado pela música tailandesa dos anos 1960 e o segundo (Con Todo El Mundo, 2018) olha com mais atenção para a Espanha. Já Mordechai se apropria destas referências para criar o próprio clima, um estrangeirismo mais distante e de temperatura mais baixa, feita para ser ouvida de olhos semicerrados. Parece ser algo próximo do que Jungle ou Thievery Corporation fariam – o diferencial é que Khruangbin é um power trio e não uma dupla de produtores de Música Eletrônica.

Cada faixa soa como se fosse o resultado de uma jam session. Mais do que o aspecto de improviso, fica evidente a capacidade de diálogo dos componentes do trio. Em Mordechai, as músicas são conversas que fluem com volume equalizado e de poder criativo democratizado.

No clipe de “Pelota”, uma personagem avança de um deserto para o fundo do mar, transmutando-se em seguida em formas geométricas que flutuam no espaço vazio. É a tradução visual perfeita da música de Mordechai, que já se inicia em paisagens contemplativas e se dissipa cada vez mais até o nível subatômico. É nesta camada invisível que acontece a mágica de Khruangbin, e é para lá que eles estão tentando nos levar.

(Mordechai em uma faixa: “Pelota”)

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ARTISTA: Khruangbin

Autor:

é músico e escreve sobre arte