Resenhas

Lonely The Brave – The Hope List

Terceiro disco da banda britânica marca a estreia de novo vocalista e repagina referências alternando agressividade e calmaria

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Ano: 2021
Selo: Easy Life Records
# Faixas: 11
Estilos: Ambient Music, Experimental
Duração: 38'
Produção: Easy Life Records

Para todos os efeitos, Lonely The Brave é uma típica banda de Rock. Guitarras distorcidas, baixos graves e potentes, baterias explosivas e vocais rasgados permeiam a discografia do grupo britânico. Entretanto, talvez por ter estreado em uma década em que o Rock já era considerado morto há muito tempo e por testemunhar a crescente presença do Hip Hop nas paradas de sucesso, a banda adicionou elementos que permitissem voos para além da estrutura básica do Rock. Ouvir um disco de Lonely The Brave nunca foi apenas sobre apreciar alguns solos de guitarra infinitos ou entoar um refrão chiclete em coro. Desde sua estreia em 2015, com o impactante The Day ‘s War, ficou claro que as composições do grupo sempre tiveram um toque catártico e grandioso, preferindo os reverbs infinitos ao invés de distorções sujas.

É dentro deste universo que a banda criou três registros de uma sonoridade autêntica e sólida. Contudo, em 2018, o vocalista David Jakes tomou a decisão de sair da banda para cuidar de sua saúde mental, deixando a banda em fase sensível e frágil por três anos. A pandemia certamente seria o cenário ideal para piorar as coisas, porém a banda tomou para si as vantagens de se trabalhar com um som redentor para explorar toda a avalanche emocional e produzir um disco ainda mais arrebatador.

Esta é o ponto central de The Hope List, capítulo que marca a entrada do novo vocalista Jack Bennett. Em termos gerais, temos uma espécie de continuidade da sonoridade construída até então. Sem grandes mudanças em relação à estética como um todo, sempre se valendo de arranjos monumentais e letras inspiradoras. Mas a intensidade das coisas parece ter alcançado novos níveis e uma das possíveis explicações para este novo patamar atingido se encontra nos jogos de contrastes do disco. Não é uma simples questão de volumes mais altos ou efeitos mais bruscos, mas a precisão com a qual elementos suaves e melódicos são dispostos com o barulho extremo. Outra particularidade deste jogo de contrastes, está no timbre vocal do novo vocalista. De uma hora para outra, somos jogados para extremos opostos – do mais suave sussurrar aos gritos roucos – e o que poderia ser uma dinâmica drástica e cansativa se torna justamente um dos apelos mais cativantes de Lonely The Brave.

“Bound” dá o pontapé inicial de forma direta, em meio a acordes ondulantes e um vocal rasgado que injeta um tom ambíguo à canção – ela é tão agressiva quanto relaxante. Já o single “Bright Eye” deixa a calmaria escondida em timbres e linhas secundárias, evidenciando uma batida agressiva, ágil e, sim, roqueira. A faixa-título é um momento mais manso e intensamente dramático entre seus acordes frágeis, um respiro para se recuperar da montanha-russa intensa até então. “Something I Said” é uma faixa para compreender que, apesar das referências Rock nortearem o registro, o Pop ganha um considerável espaço aqui, principalmente entre as melodias facilmente assimiláveis e pegajosas. Por fim, “The Harrow” encerra a jornada sintetizando o disco em linha temporal, começando de forma branda até se encerrar no ápice da explosão.

The Hope List é uma nova etapa na história de Lonely The Brave, mas também se alimenta do que havia sido construído até aqui. Há uma ambição maior em retratar os diferentes tons emocionais, mas também parcimônia na forma como essa comunicação é constituída. Um ímpeto de se colocar à deriva de uma sonoridade enérgica, mas também um espaço em que emoções são revistas e ressignificadas. Uma terapia aos gritos.

(The Hope List em uma faixa: “The Harrow”)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique