Resenhas

Natalia Lafourcade – Un Canto por México, Vol.1

Mexicana resgata as raízes de forma apaixonada e enxuta, mostrando o poder da melodia na canção popular

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Ano: 2020
Selo: Sony Music
# Faixas: 14
Estilos: Música Mexicana
Duração: 62'
Produção: Kiko Campos

Tive o privilégio de conhecer a cidade de Granada no ano passado. Caminhando na madrugada pelas ruas de mármore, me deparei com uma artista de rua que cantava um flamenco, sozinha, numa praça de mármore localizada atrás de uma catedral. Ali, entendi o significado de expressão “duende” para a língua espanhola: uma força terrestre e sanguínea, que nos rende à beleza e ao tormento da arte.

Natalia Lafourcade é uma artista que tem duende. A cantora mexicana sempre se dedicou ao resgate cultural de seu país, explorando a raiz de expressões musicais. Este Un Canto por México, Vol. 1 (serão dois volumes no total) nasce de um contexto específico: a artista se reuniu com alguns músicos de Veracruz, sua cidade natal, para angariar fundos que ajudarão na reconstrução do centro cultural da cidade, destruído por um terremoto em 2017.

Este tipo de resgate identitário parece vir num momento propício, tendo em vista outros artistas que têm se escorado em um estilo de música zeloso com as tradições de seu país – caso de Rosalía, na Espanha, por exemplo. Aqui, Lafourcade permanece mais ou menos fiel à música tradicional mexicana, numa tentativa de preservar a essência de seus antecessores, percorrendo o estilo mariachi, a cumbia, o ranchero e a norteña. A produção, portanto, é mais enxuta, com poucos instrumentos por faixa, mas isso traz uma intimidade que favorece muito o trabalho.

Lafourcade resgata exemplos típicos da tradição mexicana, revisita algumas de suas próprias composições gravadas anteriormente e também propõe, no meio disso tudo, algumas faixas inéditas. Em todas elas, a paixão da artista ao cantar é o que chama mais a atenção no trabalho. Músicas com estruturas relativamente simples evidenciam o poder da melodia na canção popular. Para além disso, Un Canto por México mostra como nós, latino americanos, sabemos sofrer por meio da música.

Não à toa, muitas das canções por aqui falam da cidade natal da artista, de raízes e, enfim, de um desejo nostálgico de voltar para casa. No entanto, esse sentimento de retorno me parece que pode ser interpretado num sentido mais amplo, mais profundo, de resgatar os valores da sua cultura local. Eu me reconheci naquela música que tocava, mesmo tão longe de casa, naquela madrugada em Granada. Parece que, na vida, como escreveu Raduan Nassar, “estamos sempre voltando para casa”.

(Un Canto por México, Vol.1 em uma faixa: Hasta La Raíz”)

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Autor:

é músico e escreve sobre arte