Resenhas

Oliver Sim – Hideous Bastard

Problemas de autoestima e filmes de terror inspiram a ótima – e justificável – estreia solo do músico do The xx

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Ano: 2022
Selo: YOUNG
# Faixas: 10
Estilos: Indie, Indie Eletrônico
Duração: 34'
Produção: Jamie xx

Problemas de autoestima e filmes de terror – que combinação interessante – são as bases escolhidas por Oliver Sim para construir seu primeiro álbum solo, Hideous Bastard. Com Jamie xx, seu companheiro de The xx, na produção, a obra desenvolve um universo próprio para as composições do músico, mas, como esperado, dessa nova união dos dois, ecoa uma ou outra qualidade da banda quase que inevitavelmente.

A face ensanguentada de Oliver dá as boas-vindas ao ouvinte junto ao verso “I’m ugly”, deixando claro o conceito da obra sobre autoimagem, além de introduzir as vivências do músico dentro desse assunto. Ao longo das canções, ele se observa no espelho em diversos níveis, da aparência superficial aos cantinhos da alma que nem sempre são agradáveis de se visitar. Mais do que isso, o disco traça relações de causa e consequência entre a maneira como o indivíduo se enxerga e as experiências às quais se submete.

Por exemplo, a mesma faixa de abertura (“Hideous”) canta “How dare I feel so lonely/ When I’m giving all my time to a man who doesn’t know me” e nos apresenta o personagem central da obra – o eu-lírico que é facilmente identificado como Oliver, em seu momento de autorreflexão ali na virada dos 30 anos (quando ele começou a compor as músicas), dando conta também de seu passado (“Hideous” termina com os versos “been living with HIV/since seventeen/am I hideous?”).

Nas próximas faixas, ele canta sobre ainda reconhecer-se na mesma sensibilidade da infância (“Sensitive Child”), a tentação de uma vida hedonista e afetivamente irresponsável (“Never There”) e a vontade de ser mais bonito (“Romance with a Memory”) – que é uma espécie de leitmotiv que guia o repertório, ainda que muitas vezes apenas nas entrelinhas.

Quando chegamos à dupla “Confident Man” e “GMT”, a sonoridade e até mesmo os trejeitos de interpretação lembram bastante The xx. Isso não apenas pela presença de Jamie, mas também na função narrativa que essas músicas possuem no repertório como um todo. Elas representam o momento em que a melancolia de Oliver ganha outros ares, com uma nova atitude – talvez aquela que ele tenha ao lado de seus amigos, seu lugar seguro –, até chegarmos em “Fruit”, uma composição sobre autoaceitação, desde a aparência (com os olhos do pai e o sorriso da mãe, como ele diz) até livrar-se da culpa da sexualidade.

Hideous Bastard é uma espécie de história com final feliz, quando se pensa na busca por aceitação. Mas, como nos filmes de terror que terminam bem, chegamos à conclusão de que, em meio a cicatrizes, há algumas feridas ainda abertas. De cunho extremamente pessoal, a estreia solo de Oliver Sim se justifica por trazer sua intimidade de maneira (ainda) mais escancarada do que em seu trabalho no The xx – e no mesmo nível de qualidade musical.

(Hideous Bastard em uma faixa: “Hideous”)

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ARTISTA: Oliver Sim

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.