Feche os olhos e responda: Qual foi o último disco que te fez querer parar e não fazer mais nada a não ser ouvi-lo?
Minha produtividade deu uma balançada desde que comecei a ouvir A Brief Introduction to Unnatural Light Years, de um tal de Oliver Wilde de quem nunca tinha ouvido falar, mas com quem já me simpatizei logo de cara pelo bonito título e por dividir seu sobrenome com um de meus dramaturgos favoritos. Agora que conheço seu trabalho, é certeza que estarei atento aos seus próximos passos.
Pesquisando a seu respeito, vi que o cara trabalha em uma loja de discos em sua cidade natal, a inglesa Bristol. Legal, ele conhece bastante de música. Isso não é garantia de muita coisa, mas, no caso de Wilde, deu a ele uma firmeza maior na hora de tomar as decisões sobre que forma dar à sua música.
Não me sinto muito à vontade para ficar nomeando essa ou aquela influência, um ou outro estilo presente no disco, já que esta me parece uma obra muito sensível, mesmo sendo tão racional em tantos aspectos. Minha impressão é que é o tipo de coisa que Elliot Smith estaria fazendo hoje em dia, ou uma versão britânica de nosso Cícero – aquele Lo-fi emocional, sabe?
Aliás, falando nisso, “britânico” é algo que Wilde é bastante. Me lembrou coisas desde Aqualung e Badly Drawn Boy até Radiohead mesmo (e quem é que não foi influenciado por Yorke & cia na terra da Rainha ou fora dela?), e seus sussurros em meio a distorções e efeitos, seja em guitarras ou violões, possuem um efeito calmante que contribuiu em parte praquela minha improdutividade que mencionei.
Ele faz uma música que se projeta a média distância. Ela se expande até certo ponto e sua introspecção reside totalmente nos vocais, mas os instrumentos jogam tudo para mais além. Ainda sobre impressões, parece que as primeiras músicas vão preparando terreno para as que estão da metade para o fim do disco, o que resulta em uma obra crescente com seu ápice na sequência Something Old (que faz qualquer um com coração fechar os olhos para ouvir melhor) e Marleah’s Presence, para depois baixar a guarda e dar uma energia final na penúltima faixa, Happy Downer (uma das melhores aqui).
E é curioso como aquelas do início, Curve (Good Grief), Flutter e Perrett’s Brook, além de ambientarem o ouvinte dentro do álbum, também são as músicas escolhidas para divulgá-lo. Ou seja, tem essa mesma função de apresentar e “criar o clima” que no disco.
Com um trabalho fora do óbvio para melodias, no geral, comuns, Oliver Wilde ganhou minha atenção em um disco sem músicas ruins e que passa rápido, mesmo com 50 minutos de duração. Não é fácil me convencer, mas este aqui me encantou.