Resenhas

Palehound – Eye On The Bat

Quarto disco do projeto de El Kempner mergulha em um término de relacionamento de forma honesta e visceral – e, ainda assim, soa divertido

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Ano: 2023
Selo: Polyvinyl
# Faixas: 10
Estilos: Indie Rock
Duração: 29'
Produção: Sam Owens e El Kempner

Eye On the Bat, quarto álbum do projeto Palehound, seria só mais um disco de término de namoro não fosse o lirismo tão honesto e visceral que El Kempner consegue desenvolver aqui. O registro se torna uma jornada a partir das complexas emoções que surgem no minucioso exame do fim de um relacionamento, com letras que misturam nostalgia, humor, aceitação e ressentimento – quase como se estivéssemos folheando o diário da artista. Com ajuda do produtor Sam Owens (Sam Evian) e de seu companheiro de banda, Larz Brogan, El atinge um resultado potente, seja pelas letras tão pessoais ou pela diversidade musical que ela consegue imprimir à obra.

Até então, seu disco mais aventureiro havia sido Black Friday, lançado em 2019, e que, entre outras coisas, narrava o desabrochar de um novo amor. Cinco anos depois e com uma nova banda (Bachelor) ao lado de Melina Duterte (Jay Som), Kempner volta ao seu projeto original para nos contar um pouco do que aconteceu nesse período. Ela narra alguns dos momentos finais do seu romance e o desenrolar dessa separação, num misto agridoce que essas memórias evocam. O relacionamento acabou, mas as lembranças seguem mais vivas do que nunca.

O ponto final dado numa comemoração do 4 de Julho (“Independence Day”), um desastroso encontro romântico atrapalhado por uma ligação (na faixa de abertura “Good Sex”) e os momentos passados longe um do outro enquanto a artista estava em turnê (“Eye On The Bat”) são algumas das histórias narradas por Eli. Ela vai do cômico ao doloroso enquanto canta sobre decepções e descaminhos que levaram seu relacionamento ao fim. Há espaço para o remorso, sentido em “My Evil”, mas também para a raiva e ansiedade, de “The Clutch”. Kempner parece tentar fazer uma autópsia do namoro, examinando cada canto em busca de respostas.

Mas não se engane: Eye On The Bat não é um disco sombrio. Apesar das temáticas, o registro não sucumbe à melancolia lânguida que um período como esse pode gerar.  Kempner sempre foi habilidosa com sua guitarra e aqui ela exercita sua versatilidade mais do que nunca, ao se inspirar em nomes como Adrianne Lenker (Big Thief), Hannah Read (Lomelda) e Meg Duffy (Hand Habits) para criar um indie rock acrobático, que consegue saltar daqui para ali com a maior facilidade. O álbum é diverso e divertido, com riffs que deixariam até mesmo J Mascis com inveja – principalmente em faixas como “The Clutch” ou “Head Like Soup”. Há até mesmo espaço para canções mais “experimentais”, como em “U Want It U Got It”, que traz uma bateria eletrônica e texturas digitais em uma canção apressada e energética.

É justamente essa dualidade que torna a obra tão interessante. Existe um claro descompasso entre mente e corpo. É quase como se El Kempner tivesse que deixar suas músicas mais “divertidas” para tentar superar os acontecimentos ou para não tornar o disco um mero catálogo das dores e desventuras que um final de relacionamento pode trazer. De certa forma, a música de Palehound sempre envolveu essas narrativas desagradáveis, mas nunca foram contadas de forma tão desinibida e sincera.

(Eye On The Bat em uma faixa: “The Clutch”)

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ARTISTA: Palehound

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts