Reset é a reunião de dois grandes nomes da psicodelia contemporânea. De um lado, o veteraníssimo Peter Kember, que faz música sob a alcunha Sonic Boom há 40 anos. De outro, Noah Lennox, o músico que, além de ter feito história com a banda Animal Collective, nos deu tantos discos com o nome Panda Bear. A adição de ambas as partes só poderia resultar em um trabalho de qualidade altíssima. E é isso o que o disco é: excelente – mas meio que só isso, sabe?
Suas nove faixas em pouco menos de 40 minutos, que trazem timbres, arranjos e toda uma atmosfera muito familiar para quem acompanha a produção psicodélica e sua retomada ao longo das últimas duas décadas. Lembra bastante, além dos projetos em que ambos estão envolvidos, gente como MGMT e The Flaming Lips, principalmente nas músicas ali dos meios de seus discos, aquelas menos conhecidas. Não há aquele charme empolgante que Tame Impala, Pond ou Boogarins conseguem trazer a esse universo.
Por melhores que sejam, as faixas parecem perdidas no tempo, sem um diálogo claro com o que está acontecendo hoje na música. Fica a impressão de que elas foram feitas ou para um público muito nichado de um subgênero musical muito específico (ou seja, quem ainda hoje é fã de Animal Collective como era em 2000 e tanto), ou apenas para dar alguma continuidade ao que os dois artistas já desenvolveram no passado, às identidades estéticas que os formaram.
Por exemplo, “Edge of the Edge” é uma que tem lá sua simpatia, mas que logo cansa pela vontade de ser estranha em determinado momento – uma postura irônica que tem pouca ou nenhuma graça em 2022. Já “Go On” parece fazer questão de não animar tanto o ouvinte, alongando-se por muito mais tempo do que precisava. Assim como todo Reset, elas são ótimas em composição, arranjo e gravação, mas comunicam que tanto Sonic Boom, quanto Panda Bear estão contentes em nos mostrar suas habilidades, mas sem estarem preocupados com as qualidades mais subjetivas de seus trabalhos – aquelas que justificam a audição de um disco mais de uma vez.
(Reset em uma faixa: “Whirlpool”)
