Resenhas

Pedro Martins – Rádio Mistério

Com participações de peso, disco do guitarrista brasiliense mistura MPB e jazz fusion em repertório nostálgico e contemplativo

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Ano: 2023
Selo: Heartcore Records
# Faixas: 14
Estilos: Jazz Fusion, Psicodelia, MPB
Duração: 51'
Produção: Pedro Martins

A atmosfera de Radio Mistério, de Pedro Martins, captura com precisão o universo sonoro em que a obra se insere: o jazz fusion e os discos de Clube da Esquina, Milton Nascimento, Novelli, Lô Borges, entre outros. É um aceno ao passado, mas a partir de uma estética que chega envelopada, também, pelo Lo-Fi – movimento que coloca o repertório em um lugar contemporâneo, nostálgico e contemplativo.

Morando atualmente nos Estados Unidos, o guitarrista brasiliense convocou uma verdadeira seleção para o repertório, que conta com nomes como Thundercat, JD Beck, Omar Hakim, Chris Fishman e Eric Clapton. O som de Rádio Mistério parece se encaixar tanto com o mercado nacional quanto com o estrangeiro – e o principal: tudo remete ao imaginário brasileiro sem precisar apelar a clichês ou escolhas óbvias. Um filtro afiado que deve tornar as composições ainda mais tentadoras aos ouvidos gringos.

A voz de Pedro, carregada de reverb na maior parte do disco, traz o mistério do título do disco e serve de textura complementar melódica-instrumental – elemento encantador para alguém que não entende português, mas, obviamente, um aconchego para nós, lusófonos. Em composições com o que há de melhor na psicodelia à brasileira, a face mais fusion e jazzística do álbum tem momentos brilhante como “Liberdade”, acompanhada do lendário baterista do Weather Report. É como um encontro perfeito entre Beto Guedes e Brainfeeder; Minas Gerais e a Califórnia.

Aqui, Pedro tem alguns de seus melhores momentos na guitarra, nos deixando com o desejo de uma apresentação ao vivo. As fusões seguem a mil em “Isn’t It Strange”, com Thundercat e JD Beck, uma síntese entre a Costa Oeste americana e o Centro-Oeste brasileiro do músico. A boa psicodelia continua em “Vou Descobrir” e “Estrela do Rock n’ Roll do Planalto Central”, com fuzz e melodias mineiras que arrepiam qualquer amante da música brasileira. “Há de Haver”, com Chris Fishman, desperta a mesma sensação de comer um cogumelo em uma tarde ensolarada de Outono – aliás, fechar os olhos e sentir cada uma das canções de Rádio Mistério é uma experiência única. “Não Leve A Mal”, com Eric Clapton, é um encaixe surpreendente entre mundos distintos, como se dois multiversos se atravessassem.

A avalanche de sensações e vibrações em Rádio Mistério é um deleite para fãs do híbrido entre MPB e jazz fusion. Essa mescla emerge a partir do combo entre o virtuosismo milimétrico e uma psicodelia-melódica-despreocupada. E se, no exterior, o disco de Pedro Martins ganha tração natural por conta de um maior interesse pelos nossos sons contemporâneos, por aqui ele pode ser apreciado como pérola brasileira – e à brasileira.

 (Rádio Mistério em uma faixa: “Liberdade (feat. Omar Hakim”))

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ARTISTA: Pedro Martins

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.