Resenhas

PJ Harvey – I Inside the Old Year Dying

10º disco da célebre artista britânica é como um canto folk vindo de uma terra distante, sombria e chuvosa

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Ano: 2023
Selo: Partisan Records
# Faixas: 12
Estilos: Alternativo
Duração: 39’
Produção: Flood, John Parish, Rob Kirwan

I Inside the Old Year Dying, o 10º disco da musicista britânica PJ Harvey, chega assombrado pelas forças do passado. Seja em seus álbuns anteriores ou em sua própria biografia, a artista faz uma escavação em busca de inspiração criativa para este novo trabalho.

Nos álbuns Let England Shake (2011) e The Hope Six Demolition Project (2016), a artista encarou, respectivamente, o passado colonial da Inglaterra e o resultado das guerras promovidas pelos Estados Unidos. Ainda no caso do segundo disco, ela viajou para o Kosovo, para o Afeganistão e para a cidade de Washington nos EUA, o que resultou no longa-metragem intitulado A Dog Called Money.

Depois dessa empreitada, PJ Harvey escreveu também um livro de poesias intitulado Orlam, no qual ela usa o dialeto de Dorset, a sua terra natal, para contar a jornada de Ira-Abel Rawles, uma menina de nove anos de idade que gradativamente abandona a inocência de sua infância. “O resultado é uma sequência de poemas de luz e sombra – repleta de toques de violência, perversão e opressão familiar, mas também de momentos de êxtase em clareiras ensolaradas, música e humor obsceno”. Assim, I Inside the Old Year Dying, que chega agora, é uma versão musicada deste livro.

As imagens da guerra foram metaforizadas por PJ Harvey nas figuras de um cachorro preto e de uma criança que aparecem como arquétipos em diversas de suas músicas dos últimos anos. Não por acaso, são as mesmas imagens que aparecem na história que se desenrola em I Inside the Old Year Dying. Nas faixas “Prayer at the Gate”, “Lwonesome Tonight” e “A Child’s Question, August” a voz aguda de Polly Jean é como um oráculo de delfos que, sinuosa, traz mensagens tanto de mau agouro quanto de redenção. O álbum se assemelha a um canto folk vindo de uma terra distante, sombria e chuvosa, que, como num conto de fadas, manipula os símbolos do inconsciente com uma linguagem mágica.

Apesar da temática continuar na mesma linha de pensamento de outrora, I Inside the Old Year Dying abandona um pouco a pegada marcial dos álbuns anteriores e aposta em músicas com um ambiente mais difuso, permeadas por drones e ruídos texturizados. Talvez, por isso mesmo, o impacto das músicas seja menor numa primeira audição. No entanto, o álbum se revela aos poucos como um enigma. Aqui, o dialeto de Dorset impede que aqueles que não sejam familiares à língua desvendem imediatamente o significado das letras, o que dá a esse trabalho um ar onírico, surrealista, ou, quem sabe, de pesadelo que, gradativamente, ganha sentido.

(I Inside the Old Year Dying em uma faixa: “I Inside the Old Year Dying”)

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ARTISTA: PJ Harvey

Autor:

é músico e escreve sobre arte