Resenhas

Rico Dalasam – Fim das Tentativas

Aliando a poesia do rap e a força melódica do pop, novo trabalho do artista paulistano canta o sofrimento e a esperança

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Ano: 2022
Selo: Independente
# Faixas: 5
Estilos: Rap, Pop
Duração: 13'
Produção: Dinho

Tempestuoso, Rico Dalasam declara o Fim das Tentativas de remoer uma mágoa passada em suas composições. Ou, como ele diz em “De Longe”, “de descrever a dor que se perdeu em mim” e evoca um novo momento em sua vida e discografia (“se esse é o fim da tentativa/também tive que morrer/Pra deixar tu morrer da minha vida”, como diz a faixa-título).

As cinco faixas que compõem o disco nunca negam o sofrimento, mas, juntas, apontam à esperança de quem aprendeu a lidar com muito daquilo que se sente, mesmo quando se sente muito. O projeto chega também na mesma linha autobiográfica que o músico do Taboão da Serra (na Grande São Paulo) propõe ao longo de sua obra, e busca, desta vez, uma maneira ainda mais emocionalmente crua, ou orgânica, para falar dos sentimentos.

Isso é explicitado na abertura do disco, o poema “De Longe”, no qual Rico esclarece que a lógica de audição desse lançamento está enraizada na poesia e em suas confissões, mais do que em um pensamento, digamos, fonográfico. Não é um trabalho feito para nos dar “uma nova ‘Braille’”, por exemplo, mas para que possamos adentrar essa vazão que o artista nos dá de sua vida e arte.

A faixa de introdução traz uma interpretação de grande potência do cantor, compositor e rapper, e deve arrepiar pelo menos um pouco até quem nunca se curvou ao seu trabalho. Ele sabe alternar entre uma poesia muito direta, vinda de sua vivência no rap (“cê viu minha cruz, quis bater prego/Só pra engordar seu ego”, em “Guia de um Amor Cego”), e a força melódica do pop brasileiro no qual se inseriu nos últimos anos (“Medo que esse amor preto/Em outro relampejo/Caia no mesmo lugar”, em “Fim das Tentativas”).

Para cantar suas vivências, ele dialoga com territórios que amparam bem as letras e, principalmente, o clima ensolarado que a obra consegue ter, apesar das cicatrizes expostas. “Tarde D+”, por exemplo, vai do trap ao pagodão baiano de forma bastante natural ao longo da música, que brinca até com timbres do piseiro. “Ando Me Perguntando”, por sua vez, abraça o rap com o qual ele ficou conhecido no início da carreira.

Adornam o disco parcerias certeiras com Céu (“Guia de um Amor Cego”) e Tuyo (na faixa-título) e fica a certeza de que Rico Dalasam sabe dar ao público uma obra de grande valor em todos os seus aspectos. O que mais marca a audição, deve-se dizer, é imaginá-lo conseguindo sorrir ao entoar versos como “O que sei sobre amor, eu inventei/Inventei um jeito para me amar/Quando alguém se sente amado por mim/Eu penso que deu certo o que precisei inventar”. É o Fim das Tentativas porque ele não precisa mais tentar nada, já conseguiu.

(Fim das Tentativas em uma faixa: “Guia de um Amor Cego”)

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ARTISTA: Rico Dalasam

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.