Resenhas

Rina Sawayama – Hold the Girl

Apesar de alguns pontos altos, segundo álbum da cantora nipo-britânica, ao fazer questão de dialogar com o lugar comum, não engrena

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Ano: 2022
Selo: Dirty Hit
# Faixas: 13
Estilos: Pop
Duração: 46'
Produção: Paul Epworth, Clarence Clarity, Stuart Price e Rina Sawayama

Alguns pontos altos precisam carregar nas costas todo Hold the Girl, segundo álbum de Rina Sawayama. Talvez na ânsia de firmar seu lugar no tão disputado mundo da música pop, a artista atira para vários lados, mas faz menos acertos do que prometia.

Enquanto algumas faixas chegam na energia certa (como a dupla “Imagining” e “Frankenstein”), o disco como um todo engasga de tantos em tantos minutos ao fazer questão de dialogar com o lugar comum. Sem a personalidade (ou seja, uma identidade própria marcante) de uma Rosalía, Charli XCX ou mesmo Grimes –, apesar de um apuro visual sempre interessante –, Rina emula aquilo que se espera, pelo menos de um grande público, do que deve ser uma obra pop em 2022.

“Minor Feelings” inaugura o repertório em tom emocionado, e seus dois minutos de duração deixam a faixa com aspecto de vinheta de abertura. Na sequência, a faixa-título é grandiosa, ecoando Ariana Grande e até mesmo Lady Gaga – que parece ter sido grande referência também para o hit “This Hell”, a terceira música de Hold the Girl. Em seguida, “Catch Me in the Air” dilui referências de um pop rockzinho anos 1990 em uma ambientação inspiracional com cara de Reels do Instagram.

“Forgiveness”, a próxima faixa, é a primeira grande surpresa do álbum. Ela começa meio mais ou menos, com cara de trilha de novela na melodia um pouco básica e uma guitarra simpática, até rumar em outra direção inesperadamente. É uma sensação que não se repete ao longo do disco, que prefere jogar seguro em uma aposta para as pistas que não faz feio, mas não surpreende muito (“Holy (Til You Let Me Go)”. Ou músicas de timbres tensos e percussão demarcada que sempre aparecem em discos assim para quebrar o clima mela cueca das baladinhas melodramáticas – como o duo “Send My Love to John” e “Phantom”.

Essas duas podem diferir bastante na estética (a primeira é mais etérea e um tanto minimalista, levada pelo violão), enquanto a outra é grandiosa e espalhafatosa, contando até com solo de guitarra). “To Be Alive”, por sua vez, é uma boa escolha para encerrar o disco, visto que retrata suas principais características: ela é toda bem feitinha, mas um tanto genérica. Em um simbólico fade out, a faixa termina sem convidar o ouvinte a um repeat.

Rina Sawayama é vocalista das boas e chama atenção pela estética visual com que apresenta seu trabalho, mas sua música raramente consegue ter um grau equivalente de originalidade. Ela fica parecendo estranha perto das divas convencionais e pasteurizada ao lado das que trazem para a música a mesma personalidade forte de suas fotos e clipes. Tentar estar em todos os lugares ao mesmo tempo pode fazer com que a artista seja vista como o disco Hold the Girl: algumas boas ideias bem executadas, mas, no geral, não cumpriu a promessa.

(Hold the Girl em uma faixa: “Catch Me in the Air”)

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ARTISTA: Rina Sawayama

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.