Resenhas

Rivers Cuomo/Scott Murphy – Scott & Rivers

Parceria que envolve líder do Weezer rende bons frutos para fãs da banda, cheio de romantismo e rock nerd

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Ano: 2013
Selo: Universal Japan 2013
# Faixas: 12
Estilos: J-Pop, Rock, Power Pop
Duração: 45:34
Nota: 4.0

Os últimos anos não têm sido simpáticos para com os fãs do Weezer. Desde 2009 a banda não consegue lançar um disco que honre mesmo seus momentos medianos, que dirá os grandes acertos dos anos 90. Além disso, Rivers Cuomo e companhia empreendem agora o Weezer Cruise, algo que pode ser divertido e interessante mas que rompe milhas de distância com algum tipo de verdade em letras e atitudes da banda ao longo da carreira. Tudo o que parece verdadeiro e sofrido nas letras e canções da banda, cai por terra diante de uma ação mercantilóide de gosto duvidoso. De qualquer forma, não estamos aqui pra falar disso. O fato é que, pasme, Rivers Cuomo lançou um disco em japonês. E, mais interessante, é a ideia mais bacana que passa por sua cabeça nerd em um bom tempo.

A empreitada é maluca e devemos encará-la dessa forma. Rivers conheceu Scott Murphy, frontman de uma bandeca pop punk de segundo escalão, chamada Allister. Os dois dividem interesses pela cultura japonesa contemporânea e fãs die hard do Weezer lembrarão da fixação sexo-cultural que Cuomo tem pelas moças japonesas já da letra de El Scorcho, canção emblemática de Pinkerton, segundo e melhor disco do Weezer, na qual ele abre os versos com um “Goddamn you half-Japanese girls/Do it to me every time”. Pois bem, o sujeito voltou à carga.

A ideia da dupla foi lançar um disco cantado em japonês. Para americanos, intolerantes com qualquer idioma que não seja a sua maneira de falar inglês, pode parecer suicídio comercial. O fato é que Rivers não soa tão afiado em termos musicais há tempos. Desde Make Believe, de 2004, que algo composto por ele, não tem crocância espontânea como Homely Girl, o single de lançamento de Scott & Rivers. Além disso, todo o conceito do disco parece bem amarrado e espontâneo, incluindo aí a parte do provável suicídio comercial, algo que é bem louvável e interessante em tempos em que o dinheiro e os gráficos de lucro e rentabilidade dão as cartas em todas as decisões que tomamos.

Sendo assim, Scott & Rivers é punk pop na tradição Weezer. Canções como a já citada Homely Girl, exibem aquela saudável apropriação de algum clima oitentista inerente, caso da faixa de abertura Breakin’ Free, que poderia estar no disco verde do Weezer. Também podemos detectar esse passeio na linha que divide a malandragem da breguice em Freakin’ Love My Life*, com vocoders de gosto duvidoso aqui e ali, mas que não chegam a atrapalhar. Mais que tudo: Rivers e Murphy poderiam gravar um disco de j-pop para faturar, mas preferiram fazer o feijão com arroz que já estão acostumados desde sempre.

Os fãs “sérios” do Weezer talvez não entendam a piada e tenham real precupação com as faculdades mentais de Cuomo, mas, cá entre nós, Scott & Rivers está longe de uma gororoba qualquer. É o velho som Weezer, cantado em japonês e cheio de romantismo nerd, para ser ouvido e dançado nos bailinhos ao redor do mundo, enquanto a menina mais linda da festa fica com o cara que joga futebol americano. Convenhamos, para os americanos, isso é possível em todo o mundo, inclusive no Japão. Arigatô.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.