A partir de uma faixa de abertura chamada “Sound Check” (“passagem de som”), Seafoam Walls constrói uma narrativa despretensiosa que revela a essência da banda a qualquer um que dê o play em XVi, seu primeiro álbum.
O projeto, nascido no quarto do compositor e guitarrista Jayan Bertrand, ganhou notoriedade no meio Indie recentemente ao receber a “bênção” de Thurston Moore, mas já acumula alguma atenção há alguns anos. Parte do motivo é o quanto o som melancólico e introspectivo do grupo contrasta com a Miami de onde ele vem, conhecida por suas cores, festas e praias ensolaradas.
Além disso, mais importante ainda, é o agradável grau de experimentação com que Bertrand e seus comparsas trabalham suas composições – com a já mencionada despretensão. Cada arranjo, ritmo e pequena surpresa nas faixas cai sempre muito bem para uma experiência bastante imersiva na sonoridade do quarteto, um estilo muito próprio que eles apelidaram de Caribbean Jazzgaze.
Por mais incomum que seja essa denominação, ela faz muito sentido para qualquer ouvinte versado na cena mais experimental do meio independente. É original, mas sempre familiar o bastante. É essa a sensação na simpática “AI”, que estende sua vibe Indie Pop por seis minutos, e na derradeira “Rushed Rain”, que fecha a obra com espírito Post-Rock na polirritmia e nas guitarras.
Escutar XVi é ser transportado para o estúdio caseiro da banda, com um som levemente abafado, e testemunhar faixas que parecem ter nascido espontaneamente a partir de qualquer fagulha de inspiração (refrões como “You always have something to say, don’t you?”, em “You Always Said”, levantam essa suspeita). Dica certeira para quem gosta de observar uma experiência bem-sucedida – não lá tão ousada, mas sempre interessante.
(XVi em uma faixa: “Dependency”)
