Resenhas

Susanne Sundfør – Ten Love Songs

Novo álbum da cantora norueguesa derrapa na originalidade e traz sonoridades decalcadas de Abba e Roxette

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Ano: 2015
Selo: Sonnet Sound
# Faixas: 10
Estilos: Pop, Indie Pop, Pop eletrônico
Duração: 46:40
Nota: 2.5
Produção: Susanne Sundfor

Ok, Susanne Sundfør, vamos ver o seu caso. O que você tem aí nestas suas dez “canções de amor”? Será a angústia existencial de mocinha norueguesa, agora quase balzaca, em forma de música? Serão exercícios de estilo sobre as variações conhecidas do Pop escandinavo, levado adiante no passado por gente como Abba, A-Ha, Roxette e outro habitante oitentista de Asgard? Ou você está mais para as gerações seguintes, meio urbana, meio inglesa demais, mais eletrônica, representa por gente como The Cardigans, Royksopp, Sondre Lerche e Thomas Dybdahl? Seja qual for a preferência de Susanne, seu Ten Love Songs é bonito, mas carece urgentemente de originalidade.

O que temos ao longo destas dez faixas, sendo que a primeira é uma introdução climática de pouco mais de um minuto, são variações de uma canção Pop manjada, tecnopop, levemente cafona mas que Sundfør disfarça sob uma aura esvoaçante, como se uma divindade louríssima surgisse diante da sua mesa no trabalho ou no ônibus/metrô/trem lotado e estendesse a mão para te salvar das agruras do cotidiano, levando para planar sobre nuvens do poente, através das músicas e com chuva de confetes dourados. É tudo bem produzido pela própria Susanne, que se aventura nesta função pela primeira vez. É tudo grandioso e épico, todas canções de final feliz, paz mundial após alguma hecatombe e redenção humana. O instrumental é solene ainda que muito eletrônico para quem não nasceu na década de 1990 e acha que Synthpop e Tecnopop não surgiram nos anos 2000. Os timbres que ela escolhe são bonitos mas não trazem qualquer novidade, às vezes lembra a cantora new age irlandesa Enya, como em Memorial, lenta, grandiosa e afeita para sonorizações de pousos de OVNIs durante a noite.

Dá pra destacar o “bumbum praticumbum prugurundum” de Accelerate, com sonoridades crocantes que soterram a voz da moçoila, sob paisagens supostamente atormentadas numa pista de dança com criaturas da noite. Fade Away vem emendada, mantem o ritmo mas lembra excessivamente os momentos mais reflexivos da conexão Roxette/Abba. A síndrome de New Age desponta como um elemental na floresta em Silencer e continua na tentativa de parecer com Kate Bush que é Kamikaze e sua sucessora, Delirious, na qual o bushismo dá lugar a mais programações eletrônicas vintage que solapam o manual de receitas de Abba, assim como Slowly. Trust Me surge como uma boa alternativa para a insônia, enquanto algo realmente novo e interessante surge na eletro-tribal-asgardiana Insects, soando como uma pajelança nórdica no meio de uma rave eletroestética com bolinhas coloridas.

Susanne é bem intencionada e tem futuro, mas precisa fazer alguma pesquisa etnográfica em seus colegas de norte da Europa e se apropriar de suas influências de forma mais pessoal. A aura séria, a chupação total e uma certa solenidade blasé/eletrônica quase ferem de morte Ten Love Songs. Próximo.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.