Resenhas

Teyana Taylor – The Album

Com repertório longo e participações estelares, terceiro álbum apresenta diferentes expressões do R&B e mostra quão grandiosa é a voz da cantora

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Ano: 2020
Selo: GOOD Music e Def Jam
# Faixas: 23
Estilos: R&B, Rap, Pop
Duração: 77'
Produção: Teyana Taylor, Carrington Brown, DJ Camper, Cardiak, Ayo, Keyz, Murda Beatz, MIXX, Timbaland, Bongo ByTheWay, Ray Keys, Mike Dean, Nova Wav, Travis Marsh, U.N.I., Scribz Riley, Kanye West.

A longa lista de participações aqueceu as redes sociais para o lançamento de The Album no Juneteenth, feriado que celebra o fim da escravidão no Texas (último estado americano a efetivar a abolição). E não é coincidência que o convite proposto por Teyana Taylor neste trabalho seja o de enaltecer a excelência musical negra, com nomes que vão de inspirações a contemporâneos – cujos talentos emergem aqui de maneira especial e marcante.

Se K.T.S.E. (2018) foi breve, The Album é uma viagem de mais de uma hora. O ponto de partida se dá no pedido de casamento de Iman Shumpert, até mergulhar em uma ligação para a emergência durante o parto que Teyana teve no banheiro de sua casa em 2015. Com beat derretido compondo a atmosfera, lidamos com as perguntas dilacerantes do outro lado da linha: “o bebê está respirando? E a mãe? Ela está respirando?”. Enquanto seu companheiro Iman, com a voz embargada, tenta seguir as instruções.

A filha do casal, hoje com 5 anos de idade, aparece logo na segunda faixa, com um lindo “Turn it up!” e mumbles adoráveis, aliviando na tensão criada na Intro. Essa sequência cria a expectativa de uma grande imersão em maternidade, mas, na realidade, a temática se concentra nessas duas faixas e na última, a poderosa “We Made It”.  Fora isso, é um grande disco de R&B, que fala de amor, seus altos e baixos, trancos e barrancos, a partir da persona intensa e encantadora de Teyana Taylor.

A cantora já falou publicamente sobre o desconforto pela falta de liberdade criativa no seu trabalho anterior, um dos discos das Wyoming sessions promovidas por Kanye West. Em entrevista à NPR, ela disse que ter que concentrar vários sentimentos diferentes em sete músicas foi muito difícil. Por outro lado, ainda que com 23 faixas, The Album não carrega a densidade emocional de K.T.S.E. Mas a recompensa surge na valorização da voz de Teyana e nas participações estelares.

Em 2018, a artista já tinha feito uma homenagem a Lauryn Hill com a mixtape The Misunderstanding of Teyana Taylor (2018). Aqui, ela retoma o diálogo com suas inspirações, por exemplo, em “Lowkey”, que conversa com “Next Lifetime”, de Erykah Badu, e tem a própria dando as caras. Ou ainda em “We Got Love”, uma das duas faixas assinadas por Kanye West, que conta com voz e poderosa mensagem de Lauryn Hill. Outra homenagem a Ms. Hill veio em “Ever Ever”, com sample de “The Sweetest Thing”.

Com o lançamento em uma data tão simbólica, o propósito de reunir vários nomes da música em seu disco é admirável, mas algumas participações soam descoladas do contexto da faixa em que estão. Por exemplo, faz sentido convidar Missy Elliot para “Boomin”, que reutiliza “808”, do Blaque, trio feminino que ferveu o R&B no início dos anos 2000. Há o desejo de enaltecer um período e de repaginá-lo. Entretanto, a presença de Future é ambígua: os vocais do trapper se encaixam perfeitamente – “do you know what you mean to me?” gruda na cabeça –, mas seus versos não casam com os delas. Existe um descompasso temático.

Como geralmente ocorre em um álbum longo, há ótimas músicas, mas a direção do repertório, por vezes, soa aleatória. Como “How You Want It?” vinda depois de uma sequência melancólica iniciada em “Lose Each Other”. Em “Friends”, anterior a “How You Want It?”, ela canta: “Sometimes I wish that I never was your lady / Sometimes I wish that I never let you taste me”. Na terceira faixa, “Wake Up Love”, o conteúdo de reconciliação aparece – mas disperso pela tracklist –, a partir de versos do próprio Iman e um arranjo de piano belíssimo, sensível.

Os poucos momentos em que Teyana se aventura fora do seu típico R&B são poderosos. Na dramática “Lose Each Other”, a voz se mistura a uma linda linha de guitarra; já em “Bad”, ela canta sobre infidelidade, escorada em um Reggae – acompanhado de percussão saxofone e trompete – e entrega uma das melhores faixas do disco. Outo destaque é a escolha interessante e inusitada de Quavo, do Migos, que canta melancolicamente em “Let’s Build”. Ou ainda a faixa-jingle “1800-One-Night”, que remete à excelente mixtape de 2015 de Badu, But You Caint Use My Phone (2015), com várias camadas de voz envolventes e cativantes.

The Album não conta uma história que entra na maternidade ou na maturidade do relacionamento da cantora com Iman – o que é estranho depois de 23 faixas majoritariamente rimando e cantando sobre amor e sexo, infidelidade e reconciliações, frequências afetivas e muito desejo. A obra se constrói a partir de Teyana, mas não é sobre ela. É uma apresentação das diferentes formas sonoras e temáticas com que o R&B se expressa e mostra quão grandiosa a voz da artista pode ser – e seus atributos como rapper, se ainda havia dúvidas. The Album é uma amostra de possibilidades e nos faz pensar como o trabalho seria caso Teyana Taylor explorasse mais intensamente as portas que abriu, uma a uma.

(The Album em uma faixa: “Made It”)

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ARTISTA: Teyana Taylor