Resenhas

The Arcs – Electrophonic Chronic

Projeto liderado por Dan Auerbach resgata canções de oito anos atrás em repertório que bebe de diferentes fontes do rock alternativo

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Ano: 2023
Selo: Hour Box LLC/Easy Eye Sound/Concord
# Faixas: 12
Estilos: Indie Rock, Rock Alternativo
Duração: 38'
Produção: Dan Auerbach e Leon Michals

Gosto de “registro” como sinônimo para “disco”. O termo implica em uma ideia de que aquilo que foi gravado retrata, como uma fotografia, um período ou um acontecimento, e eterniza aquele momento para a posteridade – ele agora está registrado.

Pois bem, The Arcs nos entrega em 2023 um registro de oito anos atrás, justamente das sessões que antecederam o álbum Yours, Dreamily, (2015). Era a gênese desta então nova banda de Dan Auerbach (The Black Keys), que, à época, imaginava que este seria um disco solo. O entrosamento dos músicos foi tanto que o projeto virou grupo, e aquelas demos, devidamente retrabalhadas, viraram Electrophonic Chronic.

Com 12 faixas que se alongam por quase 40 minutos, a obra apresenta exatamente a sonoridade que os ouvintes mais otimistas esperam. É um rock tão enraizado em uma tradição caprichada, quanto livre para trilhar seus próprios trajetos. Quem acompanha o indie e suas tantas vertentes entenderá cada esquina da cartografia que The Arcs construiu para sua estética, em suas bifurcações de estilos ou em cada pequena lombada do percurso. Todos os caminhos levam à boa música.

É muito satisfatório escutar o registro e ver como ele expressa o talento já antes comprovado de Auerbach. Sua maestria já era conhecida por The Black Keys ou nos bastidores com outros artistas (ouso dizer, por exemplo, que Lana Del Rey nunca mais foi a mesma, no melhor sentido, desde quando esteve sob sua produção em “West Coast”). É uma delícia vê-lo aqui à vontade para exercitar suas habilidades a favor de novas músicas, e a decisão de assinar o trabalho como banda, não como “solo”, diz muito sobre sua pessoa.

Electronic Chronic registra a união de vozes, instrumentos e ideias dele e de Leon Michels, Nick Movshon, Homer Steinweiss e Richard Swift, falecido em 2018. Há uma energia palpável ao longo das músicas que nasceu da alegria do encontro, do frescor de um projeto que iniciava ali sua história. E há também certa melancolia que paira não sobre as faixas, mas em nossa audição, por sabermos que esse momento nunca mais se repetirá.

Mas isso é parte da beleza da arte e a razão pela qual nós somos impelidos a criar registros. Pode ser esquisito pensar assim em uma era na qual fotos e vídeos de qualquer coisa são atividades cotidianas, mas é algo que combina muito com a vibe retrô que The Arcs trabalha – uma nostalgia que, nesse caso, oito anos depois, pode ser chamada de saudade.

(Electrophonic Chronic em uma faixa: “Heaven is a Place”)

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ARTISTA: The Arcs

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.