Resenhas

Tove Lo – Dirt Femme

Quinto disco da artista sueca mira novas possibilidades a partir de estudo minucioso do passado

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Ano: 2022
Selo: Elvira, Ali Payami, SG Lewis, OzGo, A Strut, TimFromTheHouse e Totally Enormous Extinct Dinosaurs
# Faixas: 12
Estilos: Synthpop, Retrowave
Duração: 39'
Produção: Pretty Swede Records/mtheory

Os suecos são exímios produtores da música pop, não há como negar. Apesar de a série documental This Is Pop, do Netflix, dedicar um episódio inteiro tentando compreender as razões para este grande talento, os motivos atingem diferentes esferas – sendo pouco provável que as pessoas descubram um único motivo suficiente. Entretanto, há uma explicação que, por vezes, é suficiente para explicar tantos sucessos: os suecos são mestres em polir estéticas. Desde o ABBA, quando o pop dos anos 1970 passou por uma sofisticação melódica, dá para notar que esses produtores, artistas e compositores sempre estão procurando remanejar gêneros musicais consolidados. Mesmo 50 anos depois, Tove Lo um dos exemplos de como esta habilidade persiste.

Em quatro discos de estúdio, Tove Lo mostra que, a cada nova produção, seu foco criativo se volta para um lugar diferente do pop. Em seu disco de estreia, Queen of Clouds, o interesse estava dentro do pop conceitual, construindo uma tragédia em três atos sobre o término de um relacionamento. Posteriormente, com o disco Sunshine Kitty, seu olhar se virou para uma proposta mais reduzida, evitando os exageros grandiosos do pop do começo da década de 2010. Um pop comportado em tamanho, mas potente em seu impacto nas pistas de dança. É deste trabalho que pudemos escutar “Are U Gonna Tell Her”, parceria com MC Zaac, e um exemplo claro de que Tove Lo é uma artista comprometida com diferentes caminhos. No entanto, em seu quinto disco, a artista inaugura uma fase em sua curadoria precisa: um olhar que mira novas possibilidades a partir de um estudo minucioso do passado.

Em Dirt Femme, os olhos e ouvidos de Tove Lo se voltam para a música feita a partir de sintetizadores analógicos – um recurso pelo qual os suecos são particularmente conhecidos. Não que em outros discos ela não tivesse usado sintetizadores, mas particularmente neste disco, eles parecem servir a um propósito maior. Eles evocam uma sensação envelhecida e nostálgica (no sentido mais fantasmagórico do termo). Assim, utilizando o pop recente como base para suas novas canções, Tove Lo traz uma obra também imersa da música eletrônica dos 1980, em gêneros como o industrial, IDM e o próprio synthpop. Tudo isso feito de uma maneira que esta estética surja menos como uma urgência do mercado fonográfico e mais como recurso narrativo.

O disco abre com “No One Dies From Love”, single que anunciou ao mundo que a nova era de Tove Lo seria caprichada de hits dançantes e sintetizadores pulsantes. “Suburbia”, por outro lado, se volta para um ritmo mais suave, mas capricha na “beleza melancólica” – uma mistura de Hall & Oates com Depeche Mode. “Cute & Cruel” conta com a surpreendente parceria com as irmãs suecas do First Aid Kit, exemplo de que até o dedilhado folk tem espaço neste pop vivo de Tove Lo. “Attention Whore”, criação colaborativa com o produtor Channel Tres, traz a intersecção perfeita entre o synthpop e o retrowave (gênero que ressignifica a estética brega das trilhas de filmes de ação). “I’m to Blame” é uma balada pop fora da curva, quase como um presente para os saudosos dos hits da era Queen of Clouds. Por fim, o single “How Long” acaba reunindo todos os elementos explorados até aqui, como uma pintura final desse mundo fantasmagórico e dançante. Não à toa foi escolhido para estrear durante um dos episódios da série Euphoria.

Dirt Femme repensa estruturas rígidas do pop e adiciona toques nostálgicos – o que contribui para criação de um espaço confortável para letras tão sinceras cantadas por Tove Lo. É um conforto tensionado por fantasmas do passado e que vem embalado pela já conhecida capacidade dos suecos de polir e reimaginar linguagens consolidadas.

(Dirt Femme em uma faixa: “Attention Whore”)

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ARTISTA: Tove Lo

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique