Resenhas

White Hinterland – Baby

Partes individuais do álbum trabalham juntas para servir como uma releitura da música Pop

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Ano: 2014
Selo: Dead Oceans
# Faixas: 10
Estilos: Pop Eletrônico, R&B
Nota: 2.5

White Hinterland é o sinuoso projeto da pianista e compositora Casey Dienel, que chegou oficialmente a muitos ouvidos pela primeira vez com o seu segundo álbum de 2010, Kairos. O álbum trazia canções de Dienel cobertas de uma atmosfera que mesclava o Pop introspectivo, mas ainda sonhador e leve, fazendo a experiência de audição já suave ainda mais fácil de digerir. Baby, terceiro registro em estúdio da cantora, vem de um lado completamente oposto, muito mais intenso, extremo e voraz. Pincela a irregularidade de sentimentos mais profundos, mas muito mais gratificantes e plenos. O projeto de Dienel começou em 2008 e traz uma sonoridade estruturada na mistura de instrumentos de corda, piano e com traços eletrônicos, mas que são cobertos pelos vocais etéreos de Casey.

Se passarmos pela música de White Hinterland, encontraremos o ponto que seu apelido sugere. Os arranjos são limpos e claros, permitindo que os vocais se tornem audíveis neste contexto misturado e maluco que encontram-se as melodias. Enquanto a atmosfera de Kairos era mais lavada, a cantora desta vez não se esconde atrás de absolutamente nada em Baby e se lança em meio às sonoridades que beiram a experimentação.

O álbum não aposta apenas na voz de Dienel para ser o carro-chefe, o que levanta pontos positivos e negativos para White Hinterland, já que este sempre foi seu ponto forte. Baby não mede esforços para continuar a usá-la como seu principal método de ataque e, além disso, há diversos novos truques de estúdio que caminham juntos ao longo do registro. As canções são intensas e áridas, mesmo nos momentos mais movimentados do álbum, como acontece com as harmonias vocais que deslizam pelas canções e batidas. Como sua voz é um dos focos centrais, por diversos momentos todos os outros elementos caem para mostrá-la de uma forma clara e consistente.

A voz solitária, pura e quase sem marca alguma de produção ocupa o primeiro minuto do álbum, que é marcado por canções simples, mas intensas e profundas. Essa introdução e arranjo indicam os blocos de construção do registro, mas entre estes momentos de clareza, Dienel desafia os ouvintes com sua voz suave que contrapõe a mistura de instrumentos. Este começo ajuda, inclusive, a limpar os ouvidos e prepará-los para a sonoridade que vem a ser apresentada com as canções seguintes. Algumas faixas trazem um tom obscuro e entregam vocais de dor que fervem antes de estourar em seus clímax.

Em sua totalidade, Baby oferece uma curiosa mistura de Pop Eletrônico, baladas de piano e composições experimentais. Ring The Bell é uma peça cativante de música Eletrônica, e faz uso de amostras vocais para criar uma canção ricamente texturizada e surpreendente. A voz de Dienel tem qualidade, paixão e profundidade, ao invés de soar apenas como uma amostra vocal comum da maioria das cantoras Pop. No Devotion acrescenta alguns acordes de guitarra distorcidas para complementar o sistema eletrônico atmosférico que se apresenta em toda a faixa.

No entanto, muitas das canções inclinam-se mais na direção clássica. O piano de Sickle No Sword mescla toques de Jazz, enquanto o coro soprano lindo que abre Dry Mind, acompanhado pelas batidas em sequência, lembram uma atmosfera de sonho. Outras músicas trazem melodias que ecoam para fazer uma combinação impressionante e coesa entre a batida e a voz por vezes vulnerável da cantora.

Baby é uma tentativa de transcender o gênero – com sucesso – fundindo o R&B, Pop Eletrônico e o minimalismo do piano Clássico. Às vezes, os próprios componentes são simples, enquanto em outros, as partes individuais trabalham juntas para servir como uma releitura da música Pop. Mesmo em sua forma mais simples e também em sua forma mais complexa, o álbum é ambicioso e extraordinário. Descrevê-lo como apenas agradável, não passa a verdadeira audácia de Dienel.

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BOM PARA QUEM OUVE: Austra, Regina Spektor, Lykke Li

Autor:

Largadora por vocação. Largou faculdades, o primeiro namorado e o interior. Hoje só quer saber de arte, cinema, música, fotografia e sair correndo pelo mundo.