Resenhas

Yann Tiersen – Portrait

Romantizando sua própria trajetória, o artista francês aproveita o final da década para rever suas principais canções em disco gravado analogicamente

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Ano: 2019
Selo: Everything’s Calm
# Faixas: 25
Estilos: Pop, French Pop, Instrumental
Duração: 1'36''
Produção: Gareth Jones

Chega o final da década e, com ele, um momento oportuno para alguns artistas traçarem uma revisão sobre as próprias carreiras. Recentemente, músicos consagrados como Jeff Tweedy (de Wilco) e Beck resolveram entender melhor o seu papel de veteranos “ em um mundo constantemente protagonizado por novidades”, tornando essa reinvenção o tema de seus álbuns. O francês Yann Tiersen segue pelo mesmo caminho, mas toma uma posição um pouco mais literal em Portrait.

A proposta do disco é relançar as principais músicas de sua carreira em um novo formato, todas regravadas analogicamente, num estúdio construído pelo próprio músico na ilha onde mora na região da Bretanha. Faixas antes distantes entre si agora estão recontextualizadas em um disco homogêneo. Em Portrait, portanto, é possível ter uma visão alargada sobre a obra de Tiersen, estabelecer novas conexões entre músicas que, até então, não dialogavam. O resultado é um álbum “best of” atualizado, mas também simultaneamente uma excelente nota introdutória para a obra do músico.

As músicas de Portrait não abrem mão da assinatura musical de Tiersen. Timbres metálicos de cravo, acordeão e violino evocam algo lúdico, inocente e melancólico. A ele, se juntam Emile Tiersen, Jens L Thompson e Ólavur Jákupsson, além dos músicos convidados Gruff Rhys, John Grant, Stephen O’Malley e Blonde Redhead. Com exceção deste último, todos viajaram à ilha e estiveram presentes no estúdio para a gravação das faixas, em uma tentativa de preservar uma “atmosfera” natural no som. 

Embora seja possível identificar a influência de outros artistas e compositores nos arranjos de Portrait ‒ caso de Laurie Anderson na faixa de encerramento “Thinking Like A Mountain” ‒ o álbum é uma homenagem de Tiersen a si mesmo. Os momentos mais emblemáticos, de uma aura quase circense, insuflam um ar renovado nas canções que fizeram parte da trilha sonora do filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001): músicas que tornaram o músico mundialmente famoso, mas acabaram estigmatizadas e se tornaram indissociáveis desta.

Nesse sentido, Portrait realoca as canções em um novo cenário, insular, e tenta preservar no som vários romantismos. O primeiro, em relação ao método de gravação analógico, mais “puro” que o digital de acordo com Tiersen. O segundo, em relação ao próprio processo criativo, isolado, e imaculado em relação às distrações do mundo cotidiano. Sobretudo, aqui, Tiersen romantiza o seu próprio trabalho em um resgate dos melhores momentos de sua carreira.

(Portrait em uma música: “Comptine D’un Autre Été (L’après Midi)”)

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ARTISTA: Yann Tiersen

Autor:

é músico e escreve sobre arte