De vez em quando, surge um álbum que nos faz pensar no significado desse termo. Seja de figurinhas, de retratos, ou, é claro, de músicas, um álbum é uma coleção de partes que, juntas, naquela ordem e naquele contexto, ganham um significado próprio pela soma de seus componentes. Ao chegar ao seu quarto lançamento nesse formato, Yaya Bey apresenta um conjunto de recortes sonoros que resumem sua poesia e sua musicalidade.
São 18 faixas em nem 35 minutos de duração. Ao longo do disco, o ouvinte é apresentado com falas que parecem saídas de alguma mensagem de áudio espontânea e franca, além de desenvolvimentos de melodias em uma ambientação do que o R&B oferece de mais contemporâneo. Esses dois pilares acompanham toda a audição do disco, que chama atenção sempre pelo conteúdo confessional das faixas e também pela sonoridade tão refinada com que ela trabalha.
Com uma cadência bastante fluida entre as músicas, que emendam muito bem umas nas outras (sendo que algumas delas são, na verdade, partes A e B de uma mesma melodia, como “either way” e “blessings”, que encerram o disco), o repertório encanta o ouvinte habituado a esse universo estético, de Jazmine Sullivan a FKA twigs, incorporando nuances de ritmos caribenhos e do rap, principalmente no flow com que ela interpreta muitos de seus versos falados.
Yaya Bey canta baixinho, quase sussurrando na maior parte do tempo em Remember Your North, o que confere uma camada de pessoalidade que cai muito bem com o teor íntimo de suas letras. Sendo uma obra feita para ser ouvida na ordem certa e de uma só vez, fica a impressão de uma breve imersão no universo da artista, como se ela nos oferecesse um panorama bastante completo, ainda que curto, de quem ela é hoje. “Álbum”, pode-se concluir, é mesmo para isso.
(Remember Your North Star em uma faixa: “reprise”)
