Resenhas

Lowly – Heba

Disco de estreia de grupo dinamarquês traduz profundidade sobre subjetivo e fatos mundiais

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Ano: 2017
Selo: Bella Union
# Faixas: 11
Estilos: Dream Pop, Noise Pop, Psicodelia
Duração: 40:00
Nota: 3.5
Produção: Lowly e Anders Boll

Quem disse que o Pop não pode ser profundo? Normalmente associado com letras superficiais, o gênero tem ganhado grande status para sustentar temáticas bastante densas e, até mesmo, contestadoras. Há quem diga que a escolha por temas mais sérios pouco tem a ver com sua discussão, sendo uma questão de apelo comercial – caso dos incessantes debates sobre o feminismo do disco auto-intiulado de Beyoncé. De qualquer forma, é interessante a forma como as pessoas encaram a profundidade dos discos como sempre associadas às letras, mas será que ela fica só por conta disso? O grupo dinamarquês Lowly nos prova em seu disco de estreia que as coisas são um pouco mais complexas do que aparentam ser e que essas ideias são apenas conceitos mal esboçados diante da real capacidade de relevância de um trabalho Pop.

Heba ganhou seu nome em homenagem a uma amiga síria da banda. Durante o processo de composição e gravação, o grupo refletiu bastante sobre toda a situação dos refugiados e o quão pouco os países europeus estavam dispostos a resolvê-la por causa de burocracias e legislações. Eles não se consideram uma banda política, mas toda esta situação os afetou bastante e todo o clima de tensão e frustração, unido ao sentimentalismo e romance de suas letras se misturaram criando uma sonoridade única: o que Lowly chama de Noise Pop e todos os tons que existem entre essas vertentes. Mais do que em seu EP, há uma aura bastante melancólica e etérea coexistindo com a melosidade do Pop, evidenciada em refrões chiclete e versos com melodias bastante fáceis. Tudo junto acaba funcionando como uma espécie de purificador de ar, o qual extrai da realidade apenas aquela amargura e doçura essenciais para a sonoridade da banda.

O disco transita por diferentes dosagens da melancolia e do êxtase. Se Still Life inicia o disco com uma doçura Pop bem próxima de sonoridades de bandas como Camera Obscura e Chairlift, Deer Eyes já nos joga para o outro extremo, utilizando frequências graves e timbres fugazes para traduzir um sentimento de perplexidade e euforia. Mornings talvez seja uma das músicas que mais consegue provar a habilidade do grupo em juntar estes extremos, com batidas dançantes e um pico psicodélico repleto de reverbs e chorus.

Prepare The Lake traz um tempero quase Indie a esta mistura, sem necessariamente fazer desse estereótipo algo ruim, à medida que ele está bem dissolvido entre as texturas frias e soturnas de sintetizadores. No Hands alterna com o peso de um hino bastante fúnebre e versos bastante simples, incrementando às vezes com improvisos de sopro à la Bon Iver. Para encerrar, Not So Great After All se sustenta apenas com acordes de um sintetizador intenso, como se a banda provasse que não precisa de tantos elementos para criar esta profundidade ímpar.

Heba traduz a profundidade a partir da união de vários conceitos, da mesma forma como eles são apresentados nas respectivas cabeças de seus músicos. A frustração política, o descaso amoroso, a desilusão romântica e outros temas são explorados por meio de letras simples e potentes, bem como instrumentações bem produzidas e certeiras em traduzir seus significados. Uma estreia fantástica que põe a banda em nossos radares. Vale a pena esperar os próximos lançamentos para saber como Lowly traduzirá seus sentimentos futuros e de que forma isso nos atingirá. Um disco Pop profundo, complexo e humano.

(Heba em uma faixa: Mornings)

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BOM PARA QUEM OUVE: Warpaint, Camera Obscura, Chairlift
ARTISTA: Lowly

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique