Resenhas

The JuJu – Exchange

Jazz “acidental” vem como pretexto para experimentações bem sucedidas

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Ano: 2017
Selo: The JuJu
# Faixas: 7
Estilos: Jazz Contemporâneo, Hip Hop, RnB
Duração: 27:00
Nota: 4.0
Produção: The JuJu

Dizer que as recentes experiências de fusão do Jazz com gêneros menos elitizados têm feito o gênero ressurgir das cinzas é uma ideia bastante equivocada. O Jazz sempre esteve aí, só não estivemos olhando direito. Mesmo antes de Kendrick Lamar e Badbadnotgood, esse rico e fantástico campo já tem sido explorado e compartilhado entre ciclos de amigos há tempos, funcionando como um catalisador para diversos processos de composições, mesmo que estes não fossem de artistas formalmente de Jazz.

Donnie Trumpet revelou isso com clareza e maturidade em Surf, um dos discos mais fantásticos de 2015, mas agora, dois anos depois, põe em evidência um novo lado desta apreciação. Reunido com alguns amigos de longa data, o músico traz à tona Exchange, um álbum que marca a estreia do projeto The JuJu, uma espécie de quarteto que produz acidentalmente Jazz. Donnie revelou que o projeto se enquadra neste gênero, mas que não fora produzido com este intuito, sendo o rótulo “Jazz” uma mera formalidade para tentar descrever um experimento e união de diversas referências.

The JuJu nos mostra uma das essências do Jazz que nem sempre fica clara em meio aos impossíveis solos de trompetes e infinitas sessões de improviso: o processo criativo em evidência pura. Em sete músicas, o grupo fica totalmente à disposição da criatividade, como se houvesse uma espécie de ciclo metalinguístico fantástico, no qual as diferentes influências influenciassem cada outra influência de uma forma diferente – pode parecer redundante, mas passa a ideia da obra. A amizade e entrosamento do conjunto podem ser sentidos de longe e cada composição traz esta essência de forma bastante clara. Em resumo, é um trabalho muito denso e homogêneo, mas esta não é uma homogeneidade plena e simples. É um minucioso trabalho de juntar elementos de diferentes áreas e, surpreendentemente, encontrar o Jazz em sua pura forma.

Algumas músicas, como The Exchange e Patients, podem nos mostrar uma cara mais estereotipada do gênero mas, no final das contas, estamos lidando com um grupo que tem impresso em seu subconsciente referências muito claras e bem aplicadas de Miles Davis e Pat Metheny. Entretanto, os momentos de ouro do disco estão em faixas brilhantes como We Good, com toda a experimentação Ambient e os duetos de vozes e trompetes. Ou até mesmo em The Lane, um indecifrável labirinto psicodélico de caminhos intermináveis e até mesmo, sem saída. Glide, por exemplo, é uma música de ouro que podemos ver claramente a fusão do Jazz com a Eletrônica Moderna, embora diferenciar uma parte da outra seja quase impossível e totalmente desnecessário.

Exchange é, literalmente, o significado de seu título: uma troca. Feita entre grandes amigos e que propõe novos significados para o Jazz contemporâneo. Ainda que relativamente curta, é uma obra em que nossa atenção é necessária integralmente, desvendando os diversos elementos e apreciando a fantástica mistura que The Exchange nos faz experimentar. Um disco que revela a alma do Jazz sem apelar para os estereótipos.

(Exchange em uma faixa: The Circuit)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique