Resenhas

E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante – Fundação

Álbum de estreia do quarteto paulistano sintetiza sua potente sonoridade com elementos inéditos

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Ano: 2018
Selo: Balaclava Records
# Faixas: 10
Estilos: Post-Rock, Math Rock
Nota: 4.0
Produção: Gabriel Arbex

O grande desafio do Post-Rock é suscitar em seu ouvinte o máximo de epifanias por segundo. Seja a partir da extrema reflexividade expressa em sua sonoridade ou na costumeira ausência de palavras que transfere parte da carga emocional da música para nossa subjetividade, a questão é que este é um gênero transformador, sendo difícil permanecermos os mesmos depois que finalizamos a audição de algum disco sob essa classificação.

Entretanto, para a banda paulistana E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante. o desafio que se defronta é um pouco diferente. Seus excelentes EPs e singles nos mostraram que é de fato capaz de traduzir experiências indescritíveis para o ouvinte, principalmente no registro autointitulado de 2013. Porém, na intenção de gravar seu primeiro disco completo, como a banda conseguiria reunir tamanha experiência em um lançamento de tanta importância?

Esta é a missão enfrentada de forma sólida em Fundação. Apesar do Post-Rock ser o terreno fértil no qual a banda cultivou boa parte de sua produção, este trabalho procura ampliar os horizontes inserindo flertes com gêneros um pouco mais diferentes. O Math Rock ganha espaço entre os reverbs grandiosos já conhecidos e até mesmo tem um toque suave de Black Metal entre as estridências de guitarras e a amplitude grave dos timbres de bateria. Porém, não se engane.

A adição desses elementos não interfere em nada na rica construção de sua sonoridade tão apreciada pelo público, sendo que, de certa forma, ela até a torna mais rebuscada e bem pensada. O som da banda muda em decorrência da certeira afirmação de quem eles são e aquele impulso de uma sonoridade gigante, exagerada e caprichada nos reverbs cede espaço a algo mais pensado e menos impulsivo, tal qual uma fundação deve ser.

Abrindo a faixa que dá nome ao registro, Fundação deixa as coisas monocromáticas, criando uma ambientação gélida, mas que cede espaço para uma explosão de sentimentos. Ainda suave, A Caminho De, é labiríntica e nos guia por um caminho sinuoso entre os diálogos de guitarras. Se Fosse Assim, Onde Iríamos Parar? é uma das composições chave do disco, uma que reconhece a complexidade da vivência da banda e não tenta esconder isso ao colocar um saxofone mirabolante no meio de um arranjo quase Math Rock.

O single Daiane talvez seja uma das mais fortes composições da história da banda, evoluindo aos poucos até atingir se ápice máximo em meio a texturas agressivas quase como versões remodeladas do Black Metal. A emoção é tão grande que as palavras precisam entrar em jogo, com a hipnótica Se A Resposta Gera Dúvida, Então Não É A Solução cantada em um emocionante coro uníssono.

Com um disco de estreia intenso, E A Terra…consegue botar em prática a complexa de sintetizar sua essência. Uma essência que de amadora não tem nada e que impressiona pela qualidade e ambição para um primeiro trabalho de estúdio. Uma obra tão grandiosa que não cabe em sua finitude, transbordando para dentro de nós.

(Fundação em uma faixa: Daiane)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique