Resenhas

The Joy Formidable – AAARTH

Banda galesa grava disco baseado em tensões e mudanças

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Ano: 2018
Selo: Frontiers Records
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock
Duração: 45:51
Nota: 3.5
Produção: Ritzy Bryan e Rhydian Dafydd

O trio galês The Joy Formidable é uma banda moderna de Rock até o talo. Tem guitarras e melodias angulosas, angústia existencial intrínseca aos climas, arranjos e letras e uma abordagem do próprio processo de composição/gravação que exala contemporaneidade. A crítica gringa diz que eles são “pós-Britpop”, mas não dá pra identificar muito disso no som que fazem. São mais uma mescla de Rock muscular oitentista, de viés alternativo americano com uma versão mais vigorosa e esporrenta do Shoegaze, por mais contraditório que pareça. É música introspectiva de estádio, Rock barulhento de sutilezas com guitarras altas subentendidas.

É assim, com base nas tensões e contradições, que a banda cria seu caminho e expõe sua própria existência. Por exemplo, a cantora e guitarrista Ritzy Bryan e obaixista Rhydian Dafydd já foram um casal, porém, de dois anos para cá, são apenas parceiros criativos. O grupo já integrou as fileiras de uma gravadora multinacional, Atlantic, porém, com este Aaarth, passa a atuar na independência. Mesmo assim, o trio foi chamado para abrir show de ninguém menos que Foo Fighters. Como se não bastasse, independente da banda de Grohl e seus amigos, The Joy Formidable já está em turnê pela América do Norte, majoritariamente em lugares médios e pequenos, tocando para audiências que se ligam nos caminhos alternativos da música pop atual.

Tais tensões e contradições estão por toda parte em Aaarth, que significa uma derivação de “urso” em galês (o termo certo seria “arth”). Há também uma nesga de conceito no disco: é um trabalho de liberdade e sua celebração. A banda se sente à vontade para gravar o que quiser e como quiser e sua mudança para o Sudoeste dos Estados Unidos parece estar diretamente relacionada com esta sensação e surge como uma interessante influênca em sua sonoridade. Apesar de sustentar certos padrões Pop, a maioria das faixas é complicada para o consumo em grandes espaços e não oferece refrãos amistosos ou coros de “ôôô”, o que é bem bom. Parece que o trio está disposto a trazer admiradores para suas canções sem abrir concessões, algo que também é legal e ousado.

Os destaques do álbum surgem na boa levada de guitarras de What For, talvez a faixa mais afeita à dança e ao pula-pula de estádio. Go Loving também é legal, com detalhes eletrônicos em meio ao comichão de seis cordas erguido por Dafydd e sustentado pelo bom vocal de Ritzy. Dance Of The Lotus soa quase como uma incursão no Math Rock, mas logo se transmuta em Rock pesado, enguitarrado e cheio de nuances de mixagem e produção em estúdio, que contribuem para um clima abafado e noturno. O fechamento vem com a melhor faixa, Caught On A Breeze, que tem ótima linha de baixo, bateria cadenciada, voz sussurrante e obeceda, tudo metido numa levada pós-punk oitentista.

Com boas referências e ousadia técnica e tática, The Joy Formidable vem com o elemento surpresa em suas mãos e pronta para confundir todo mundo.

(Aaarth em uma música: Caught On A Breeze)

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BOM PARA QUEM OUVE: Metric, Yeah Yeah Yeahs, Arcade Fire
MARCADORES: Rock Alternativo

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.