Ao analisar um disco muitas vezes a capa se torna uma pequena foto em nossos players e não algo que realmente se torne uma extensão daquela obra. Por mais que as faixas The Inheritors consigam falar por si só, me parece que a arte da capa expressa tanto sobre o disco quanto elas. Mais do que isso, elas parecem se complementar.
Sim, como você pode observar a capa deste disco é uma pedra, porém não uma rocha qualquer. Seu tom cinzento e sua aparência bruta, dura e rudimentar contrastam com as ranhuras e pequenos detalhes talhados cuidadosamente nela – desenhos abstratos que parecem ao mesmo tempo primitivos e futurísticos. E essa é uma dicotomia muito interessante que se estende também paras as faixas.
É como se o novo e o velho se encontrassem em um só ponto. Velhas ideias e referências musicais sendo propagadas por tons futurísticos através da Música Eletrônica. Mesmo o tom vintage de algumas músicas (provocados pelos timbres dos sintetizadores e drum machinhes) não “estragam” esse clima “De Volta Para o Futuro” em que James Holden se propõem em mergulhar.
Renata é uma das faixas que melhor exemplificam isso com o grande uso dos sintetizadores e texturas old school, mas que ao mesmo tempo parecem transmitir a visão do futuro, porém do ponto de vista de quem viveu há 30 anos.
Mas por mais que a proposta seja mergulhar no velho, diversos novos estilos são usados aqui, como IDM, Microhouse, Techno e Ambient Music, mas sem os trazê-los de forma coesa. James parece pular de estilo em estilo em cada uma de suas faixas – e o que pode fazer alguns ouvintes se chatearem por não encontrar muitos pares para suas músicas favoritas.
Outro ponto em o disco pode perder mais alguns pontos com o ouvinte são as faixas levadas à Ambient Music – no que parece ser um tributo “Lo-Fi” à música do Boards Of Canada. Faixas como The Illuminations ou Inter-City 125 acabam se tornando monótonas e sujas demais para a proposta do estilo – ainda que se encaixem perfeitamente na obra.
Ainda que com grandes pontos de flutuabilidade estilística, a estética e conceito do álbum se mantém quase inalterados ao longo de suas 15 faixas (que somam mais de uma hora). E no fim das contas James Holden fez de The Inheritors um trabalho conceitual consistente em que o velho e o novo não soam como uma antítese e sim com uma soma.