Muita gente se lembra do discurso de Fiona Apple no VMA 1997, mas o que nem todos mencionam é com quem a americana concorria como Revelação, prêmio entregue a ela – prestes a completar 20 anos – por Elton John: Hanson, Jamiroquai, Meredith Brooks e The Wallflowers. Não era exatamente o clima mais propício para Fiona ascender como a novidade mais quente da música. Embora, à época, Beck trilhasse um caminho alternativo pelo mainstream e Alanis Morrissette fosse a maior estrela do rock, Fiona sempre foi avessa a rótulos e distante do tempo e das idiossincrasias da indústria. Ainda assim, além do prêmio e do discurso lendário, ela se tornou uma figura admirada, magnética e indecifrável. E essa aura se incrementou ainda mais.
Em cinco discos lançados ao longo de quase 25 anos, Fiona condensa ecos que vão do jazz ao pop dos singer-songwriters dos anos 1970, da poesia de Maya Angelou ao piano de Nina Simone, da ternura de Joni Mitchell à aspereza de Sinéad O’Connor. Suas letras e sua forma de cantar pintam um universo sempre surpreendente e diverso: leve e acolhedor – ou mordaz e combativo. Mas tudo o que Fiona canta passa por um crivo de rara sinceridade, independentemente se esse lirismo encontrará um caminho afável, melancólico ou indigesto. Sua composição também é dada a surpresas: é rock, é jazz, é pop, é poesia, é sei lá o quê. Inclusive, ela já foi indicada ao Grammy, em diferentes anos, nas categorias de pop, rock e alternativo. É difícil decidir o que é Fiona Apple – e a própria, felizmente, nem se importa com essa decisão. O que nos resta é desvendar um pouco de seus segredos a partir dos fantásticos discos que ela colocou no mundo, como um periscópio, que se safa do muro, e avista uma estonteante paisagem, digna de incontáveis revisitas.
Comemore o aniversário de Fiona Apple, que completa 46 anos hoje (13/09), com o nosso especial que destrincha a discografia de uma das artistas mais autênticas das últimas três décadas.
Tidal (1996)
No meio dos anos 1990, inaugura-se o mistério chamado Fiona Apple [Resenha]
When The Pawn… (1999)
No segundo disco de estúdio, angústias costuradas em arranjos grandiosos e, em retrato lúcido e maduro, a prova do magnetismo sonoro [Resenha]
Extraordinary Machine (2005)
Insatisfação da gravadora, vazamentos em uma época pré-streaming e, com talento e imaginação, o domínio da feroz máquina da indústria musical [Resenha]
The Idler Wheel… (2012)
Sete anos de espera e um clássico que combina melancolia e explosões – tudo colado por uma musicalidade singela e arrebatadora [Resenha]
Fetch The Bolt Cutters (2020)
Mais do que um retorno triunfal, uma aula e uma tradução de quem é, afinal, Fiona Apple – quase 25 anos após sua estreia [Resenha]