Resenhas

21 Savage & Metro Boomin – SAVAGE MODE II

Segunda colaboração entre rapper e produtor tem seus pontos altos, mas fica na média ao não correr riscos

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Ano: 2020
Selo: Slaughter Gang & Boominati Worldwide
# Faixas: 15
Estilos: Trap
Duração: 44'
Produção: Metro Boomin’, Southside, Zaytoven e outros

Savage Mode (2016) foi o projeto responsável por alçar 21 Savage ao tier 1 do Trap contemporâneo e reforçou o lugar de Metro Boomin como um dos melhores produtores de sua geração. A proficiência constante do beatmaker e a monotonia sombria da voz e barras do então jovem rapper fizeram da mixtape um clássico do subgênero sulista. Nos quatro anos que separam a estreia como duo, muita coisa aconteceu: Metro Boomin lançou álbum solo e colaborou com gigantes da indústria; 21 Savage soltou dois discos, foi indicado em quatro categorias do Grammy e venceu uma – e ainda passou por um injusto processo de deportação dos Estados Unidos, por ter nascido no Reino Unido. Savage Mode II (2020) chegou de surpresa (apenas dois dias entre o anúncio e o lançamento) e com expectativas altas.

Metro Boomin não lançava nada desde 2018, mas é definitivamente quem puxa o bonde aqui. A produção sugere uma atmosfera cinemática soturna, com ares de filme de terror conduzidos pela boa ambientação que o produtor cria na maioria das faixas e também nas excelentes transições entre as canções, algo como o “falso” plano-sequência” de Iñarritu em Birdman. Há também a peculiar participação de Morgan Freeman narrando a introdução e alguns interlúdios e versos de Young Nudy e das estrelas Drake e Young Thug.

Os temas das músicas é o de sempre do Trap: armas, dinheiro e o disparado favorito de 21 Savage – a traição de confiança, que ganha uma faixa exclusiva em “Snitches & Rats”. Até então, sem problemas. O esquisito é quando 21 Savage tenta demonstrar alguma sensibilidade, como em “Mr. Right Now”, faixa na qual ele convida Drake, imbatível quando se trata de ser superficialmente sensível. A participação de Drizzy e a canção num geral são mais deslocadas do que vendedor de amendoim em encontro gótico, soando como nada mais do que um fan-service. Com direito a Drake sendo Drake ao contar, sem motivo relevante, que namorou SZA em 2008. Brega.

A capa de Savage Mode II no estilo Pen & Pixel – empresa de design gráfico responsável pelas artes clássicas da explosão do Rap sulista nos anos 1990 – poderia ter sugerido beats que fagocitassem outros sub-gêneros da região, principalmente o Memphis Rap e o Phonk, sua roupagem mais contemporânea. No entanto, Metro Boomin só molha os pés no crunk, com os padrões de bateria de “Rich Nigga Shit”, por exemplo. Não à toa, é uma das melhores músicas do projeto e com barras divertidas de 21 Savage. “I did a 69 with her friend, hope she don’t tell on me”, um trocadilho com o rapper 6ix9ine e sua postura de X-9. Ainda há a presença de Young Thug, que se destaca e deixa espaço para imaginarmos o collab “MetroThug”.

“Steppin’ on niggas” é outro ponto forte do projeto e mais uma faixa em Boomin’ foi além das sonoridades do Trap contemporâneo. Aqui, ele produz uma batida com a capacidade de nos transportar para a Califórnia do início dos anos 1990, com um som que poderia muito bem ter uma participação de MC Eith ou Ice Cube. Apesar de 21 Savage não estar tão confortável aqui como nos beats de Trap, dá para notar, principalmente no flow, que ele andou estudando Eazy-E – e o esforço é louvável.

No fim do dia, Savage Mode II é um trabalho razoável. Alguns pontos altos e outros baixos – mas nem tanto – o garantem na média. O que parece é que 21 Savage precisa reencontrar sua forma e Metro Boomin continua com um talento excepcional, destacando-se frente a outros beatmakers atuais. O disco certamente baterá muitos números e tem potencial “tik-tokável”, mas será mais interessante, para a carreira de ambos, que novos horizontes criativos se abram.

(Savage Mode II em uma faixa: “Many Men”)

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