Resenhas

A.A.R. | Chediak – Discos Flutuantes

Projeto de ambient music do produtor mescla referências, capricha nos detalhes e é autêntico e imaginativo

Loading

Selo: SPEEDTEST RAVE
# Faixas: 16
Estilos: Ambient, VGM
Duração: 39'
Produção: Chediak

É curioso e bonito ver que este projeto musical do produtor de música elétrica-eletrônica Chediak é quase uma antítese do que ele havia apresentado anteriormente – mas não paradoxal a seu gosto musical e vivência. Discos Flutuantes é seu trabalho de ambient music, que chega sob a alcunha A.A.R., uma sigla simples e explicativa: aprendendo a respirar.

Aprender a respirar é necessário se você é linha de frente de um dos grandes expoentes de drum & bass e jungle do Brasil – a festa e selo SPEEDTEST. Com tantos remixes, singles e featurings de sua autoria pipocando intensamente pela internet desde antes de 2019, entender a atmosfera ao redor, respirar e aproveitar as brisas da natureza resultam em um novo rumo para o produtor mineiro e, consequentemente, para esse delicioso disco.

“Toda vez que eu não sei o que fazer, eu saio pra caminhar” diz Pedro em “Instruções”. Parece simples, como ele diz, assim como o som aqui, mas não é. Na belíssima “Memória de Infância”, melodias lentas preenchidas por arpejos sintetizados jogam com a perspectiva sonora de nossos ouvidos em um exercício meditativo-transcendental. “Aquatouch” explora um pouco de VGM de um jogo 8-bit imaginário – uma paleta de sons que poderia ser trilha do jogo Celeste. Cada detalhe constrói uma viagem particular que demonstra a habilidade de Chediak ao manusear minúcias.

“Dançando com a Minha Sombra” e “Conversando com as Plantas” brincam com dualidades de escuridão e claridade – a primeira nos joga para as profundezas do inconsciente, enquanto a segunda nos confunde como a luz acesa ao despertar. Pensar em Minas Gerais e seus caminhos naturais é inevitável quando se ouve o trabalho. Em “Good News”, parceria com J.V., sentimos inspirações de Aphex Twin, Hiroshi Yamamura ou Mort, mas notamos um pouco também de Porter Robinson, nome fundamental para a cena eletrônica híbrida atual.

Se a linguagem da internet define o que é música eletrônica e PC Music, podemos dizer que a ambient nunca se tornou tão popular após as descobertas do YouTube. Chediak navega com muita facilidade por esse lugar virtual e o resultado é uma produção autêntica, ousada e imaginativa. Suas criações borram limites e, em Discos Flutuantes, ele mostra que, entre um drum break e outro, aprendeu bem a respirar. Um pouquinho de droga, um pouquinho de salada. O futuro parece presente por aqui – e Chediak e sua turma estão apenas no começo.

 (Discos Flutuntes em uma faixa: “Memória de Infância”)

Loading

ARTISTA: A.A.R., Chediak

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.