Resenhas

Adrianne Lenker – Bright Future

Entre o folk e o country, quinto álbum solo da artista é um exercício incansável de busca pela beleza dentro da tristeza e dos corações partidos

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Ano: 2024
Selo: 4AD
# Faixas: 12
Estilos: Folk, Country
Duração: 43'
Produção: Philip Weinrobe, Adrianne Lenker

É endurecendo, mas sem perder a ternura jamais, que Adrianne Lenker se consagra como uma das maiores compositoras de sua geração. A artista lança agora este que é o quinto álbum de sua carreira solo, intitulado Bright Future. Apesar de muito prolífica – além dos cinco álbuns solo, ela possui cinco exemplares no catálogo de sua banda Big Thief –, está claro a essa altura que Lenker não escreve apenas por escrever. Cada verso de suas canções se comporta como uma pequena verdade absoluta, um pequeno espaço onde cabe uma busca perpétua pelo aprimoramento.

Como Lenker declarou recentemente em entrevista, “acho que em algum lugar de nossos corações, todos nós desejamos isso: ser verdadeiramente vistos e ter tempo para isso […] mesmo que alguém tenha cinco minutos para lhe dar, são cinco minutos que parecem infinitos”. E é de fato essa sensação que temos ao ouvir Bright Future, um exercício incansável de procurar a beleza dentro da tristeza, dos corações partidos e, enfim, das histórias de vida.

A primeira informação que temos na sinopse do álbum é que este é um trabalho AAA, ou seja, analógico-analógico-analógico e que, portanto, exclui completamente as interações digitais das técnicas de gravação contemporâneas. Feito em parceria com o produtor Philip Weinrobe, Bright Future é mais do que um álbum à moda antiga – que exibe não só a capacidade técnica de Lenker e dos convidados Nick Hakim, Mat Davidson e Josefin Runsteen, que dedilham seus instrumentos em formações aracnídeas sem titubear –, mas também da entrega do grupo nas performances ao vivo.

Um exemplo disso é a primeira faixa, “Real House”, um ponto fora da curva no catálogo da compositora. Com tons autobiográficos e letra sinuosa, quase como um fluxo de pensamento, a música nos deixa ouvir o chiado da fita, uma risada depois de um acorde improvável, e também quando Lenker afasta sua boca do microfone. Tudo dá à gravação um teor de intimidade, como se estivéssemos diante da confissão de um segredo. Outros momentos de destaque são “Sadness as a Gift”, canção country feita como ourivesaria, sobre fazer as pazes com tristeza e descobrir a beleza da vida também nas decepções. Já o jogo de palavras de “Evol” transforma o exercício da composição no próprio tema da música, invertendo palavras e descobrindo significados secretos dentro de cada uma, como amor (love) que, que se transforma em mal (evol/evil). Vale mencionar também a música “Vampire Empire”, que já conhecíamos na versão da Big Thief, aqui gravada de maneira descompromissada, como uma celebração coletiva.

Com 12 faixas e 40 minutos – e lançado tão próximo de outros trabalhos –, Bright Future mostra uma artista incansável à procura da canção perfeita. Aqui, ela continua sua busca analógica, iniciada nos álbuns anteriores songs e instrumentals, explorando terrenos conhecidos do folk e do country. Desta vez, ao trazer um título auspicioso, tudo indica que Lenker está no caminho certo de sua jornada.

(Bright Future em uma música: “Sadness As a Gift”)

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Autor:

é músico e escreve sobre arte