Resenhas

ANOHNI and the Johnsons – My Back Was a Bridge For You to Cross

Em quinto álbum, artista inglesa se distancia de sua típica atmosfera etérea para investir, com autenticidade e urgência, em elementos de rock e soul

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Ano: 2023
Selo: Secretly Canadian
# Faixas: 10
Estilos: Indie, Indie Rock
Duração: 41'
Produção: Produzido por Anohni e Jimmy Hogarth

A atmosfera etérea que transporta aquele vocal onírico com notas alongadas, acompanhado de um piano igualmente lúdico e sempre emocionado – aproximar-se de um novo trabalho de ANOHNI é saber o que encontrar, em vista do que a artista nos deu na última década. É, portanto, uma surpresa quando My Back Was a Bridge For You to Cross revela-se uma obra bem menos aérea, pautada no indie rock e com os pés no chão (ou no palco). E também temos the Johnsons para nos lembrar de que este é um trabalho feito mais na pulsão humana do que nas qualidades fantasiosas e sobrenaturais que ouvimos em outras músicas da artista.

Não se trata de uma reimaginação do que ANOHNI nos deu no passado, mas de um novo capítulo em sua discografia, com uma energia muito própria. Guiada pela guitarra, sua voz encontra o terreno fértil de um indie que se aproxima ora do soul (como nas excelentes “Can’t” e “Why Am I Alive Now?”), ora de um rock grandioso e nostálgico (“Rest” e a curtíssima “Go Ahead”). Ao invés do aspecto etéreo que marcou sua carreira, é sua qualidade mais humana que se destaca aqui, e que também guia nossa audição ao longo das faixas.

Elas falam de perdas e lutos, de um mundo em chamas no qual, muitas vezes, a única resposta que temos é a emocional. ANOHNI cita Marvin Gaye e seu What’s Going On como inspiração para o disco, ao ponto de My Back Was a Bridge… ser uma espécie de “resposta” ao clássico de 1971. Ambas as obras prezam pela honestidade na sensibilidade ao relatar o fardo de ver um planeta em destruição e a dor que isso causa no indivíduo.

A escolha de palavras nos versos segue essa mesma proposta. Saltam aos ouvidos termos ligados à violência e o peso de figuras de linguagem que expressam a devastação. Não ficam dúvidas de que a obra é um lançamento pós-pandemia, e é bem possível que ela logo seja apontada como o trabalho mais universal da artista por expressar bem a condição humana não apenas de maneira geral, mas principalmente neste contexto.

Quem já acompanha ANOHNI deve se surpreender positivamente com como sua voz fica bem inserida nessa ambientação de guitarras e percussão bem demarcada. Com a potência de um disco feito em banda, My Back Was a Bridge For You to Cross é um trabalho que sabe causar admiração em todos os que o experimentam ao equilibrar as melhores qualidades da artista com a urgência de seus temas.

(My Back Was a Bridge for You to Cross em uma faixa: “It Must Change”)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.