Resenhas

Faye Webster – Underdressed At The Symphony

Quinto disco da cantora americana elabora emoções poderosas a partir de minimalismo nas palavras e nos acordes

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Ano: 2024
Selo: Secretly Canadian
# Faixas: 10
Estilos: Soft Rock, Alt Country
Duração: 36'
Produção: Faye Webster, Drew Vanderberg

Um título como Underdressed At The Symphony diz muito sobre o que podemos esperar do quinto e mais recente álbum da cantora Faye Webster. Esse nome serve como metáfora para uma artista que, por mais elegante que seja, parece estar sempre deslocada em um evento sofisticado – como uma sinfonia. No final das contas, não importa o quanto ela se esforce para se encaixar, ela não faz parte dessa plateia, esse não é seu lugar. Ao mesmo tempo, esse nome serve como lembrete do quão casual e complexa sua arte pode ser.

A musicista de Atlanta tem em sua arte um misto aconchegante e doce, que por muitas vezes esconde o quanto suas letras consegue são tão mundanas quanto são dolorosas. Com uma fusão entre soft rock e alt country, Faye consegue nos entregar músicas que tomam seu tempo para crescer (ou mesmo para permanecerem imutáveis) por vários minutos – tempo necessário para o ouvinte refletir sobre os temas cantados. Apesar dos arranjos muito bem trabalhados, não há extravagâncias e exageros. Os solos de guitarra são comedidos, os lap steel guitars são todos pontuais; mesmo os pianos e violinos surgem e desaparecem nos momentos certos. O que não tira o brilho e a potência da instrumenta. Com ela, menos é sempre mais.

Assim como os arranjos, as letras se apresentam de forma mais enxuta. A simplicidade lírica e a banalidade de alguns trechos refletem na verdade um emaranhado de lembranças, desejos, medos, ilusões e dúvidas que Faye carrega. Sua carreira é marcada por discos que captam relacionamentos desfeitos ou pensamentos sobre ex-companheiros, e com Underdressed At The Symphony não é diferente, porém, agora, ela traz outras reflexões, algumas sobre si sem exatamente refletir a ausência do outro – caso da ótima “Wanna Quit All the Time”, em que ela conta sobre como é viver em sua própria cabeça depois de largar o álcool.

Faye não se apressa para contar suas histórias. Faixas como “Thinking About You” e “Lifetime” (que ultrapassam a marca de 6 e 5 minutos, respectivamente) repetem seu título diversas vezes durante a canção, o que não só reforça o tema, como parece renovar significados a cada iteração do refrão, como se fosse um mantra que penetra cada vez mais fundo. É assim também “Tttttime”, que encerra o registro de forma meditativa enquanto divaga sobre a passagem do tempo – e com acompanhamento de violinos, que surgem no crescendo da canção.

Talvez o maior destaque aqui seja o single “But Not Kiss”, liberado meses antes do lançamento do álbum. Na canção, Webster lida de maneira conflitante com uma separação; ela não sabe se enfrenta a realidade ou vive mais um tempo em meio aos seus pensamentos ilusórios sobre esse relacionamento, como se um processo gradual fosse, talvez, menos doloroso do que um final abrupto. Essa indecisão gera versos como “I want to sleep in your arms but not kiss” ou “I want to see you in my dreams/But then forget”.

Underdressed At The Symphony reflete a alma de uma jovem de apenas 26 anos, que extrai do cotidiano observações que nem todos os compositores estão atentos. Suas reflexões sardônicas falam muito sobre si, mas também retratam uma geração que parece menos preocupada em arrumar a bagunça feita e mais em como viver bem num mundo completamente bagunçado. O maior trunfo de Faye Webster é fazer tudo isso de forma minimalista, seja na quantidade de acordes ou de palavras – e ainda assim conseguir evocar emoções poderosas, num misto de dor e contradição.

(Underdressed At The Symphony em uma faixa: “But Not Kiss”)

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ARTISTA: Faye Webster

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts