Faye Webster sabe que, por mais que nossa maneira de consumir música tenha mudado muito ao longo dos anos – da vitrola ao streaming –, a forma como nos relacionamos com ela ainda é a mesma. Daí que, em pleno 2019, ela escolhe lançar um álbum que repete um formato que permaneceu quase intacto no decorrer das últimas décadas: o disco de canções de amor.
O mais correto, na verdade, é dizer que Atlanta Millionaires Club, seu terceiro LP, é uma obra “pós-relacionamento” – aquele período doloroso a que em português chamamos de saudades e que, com ou sem música, é compreendido no mundo inteiro. Assim como esse amor que traz mais dores do que delícias é universalmente conhecido, a linguagem escolhida pela cantora não oferece desafios para que as pessoas consigam se relacionar com sua obra. Musicalmente, a aposta é na totalmente palatável estrutura da canção pop: aquela que se dedica a um jogo entre versos e refrães sobre uma cama instrumental que favorece tão somente a voz em questão.
Chama atenção a simplicidade de suas letras, com um alto grau de melancolia comunicado por meio de um equilíbrio entre metáforas e descrições menos fantasiosas. Ela fala de lágrimas em temperatura ambiente para dizer o quanto já chorou em “Room Temperature”; fala sobre despedidas injustas em “Right Side of My Neck”; e lamenta a solidão ao comentar que, agora, tem como seu melhor amigo um cachorro do qual nem sabe o nome em “Jonny”.
Frases que descrevem momentos como estes saltam aos ouvidos durante a audição de Atlanta Millionaires Club. O mesmo acontece com um ou dois timbres que parecem roubar a cena durante algumas das faixas; preenchendo os espaços que a voz não ocupa e dando ênfase à melodia principal, especialmente quando a letra precisa de um reforço. Seja com a guitarra chorona do Country na música de abertura, nas conversas entre violino, flauta e saxofone em “Atlanta” ou nos beats cheios de grave de “Flower” (com participação do rapper Father), a interpretação da cantora – que também assina a co-produção da obra – está sempre bem acompanhada. A meia hora de duração do disco, por isso, torna-se ainda mais dinâmica.
O pacote, inclusive, é envolto por uma aura que alguns chamarão de nostálgica – por se parecer com produções do passado – e outros dirão que é atemporal, já que esse jeito de fazer música, de certa forma, nunca, de fato, foi embora. Assim, Faye Webster conquista sua relevância por entre o público certeiro que os sons sentimentais têm como fãs e, ao mesmo tempo, abre espaço para que mais pessoas (e novas gerações) se abram para este universo cor-de-rosa.
(Atlanta Millionaires Club em uma música: Pigeon)