Resenhas

Flying Lotus – Flamagra

Novo álbum de produtor estadunidense quebra o hiato de lançamentos com uma grande lista de convidados

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Ano: 2019
Selo: Warp
# Faixas: 27
Estilos: Eletrônico, Jazz, Hip Hop
Duração: 67'
Nota: 3.5

Desde que surgiu, em 2006, como Flying Lotus, Steven Ellison manteve um ritmo estável de lançamentos, trilhando, a cada par de anos, o caminho que o levaria até You’re Dead! (2014) ‒ o ponto mais alto de sua carreira até então. Consequentemente, este foi o disco que colocou o artista entre os concorrentes do Grammy.

A partir daí, FlyLo reduziu o andamento da carreira solo no intuito de concentrar seus esforços em produzir outros artistas. Nos últimos cinco anos, ele esteve envolvido em alguns dos álbuns mais marcantes do Jazz, do Funk e do Hip Hop contemporâneo, como To Pimp a Butterfly (2015), de Kendrick Lamar, ou Drunk (2017), de Thundercat. Agora, para a alegria dos fãs, Ellison encerra esse intervalo com o lançamento de Flamagra.

O período fora dos holofotes parece ter servido para fermentar alguns rumos conceituais do novo disco. Diz o artista que, neste ínterim, sempre teve um tema na cabeça: “uma persistente ideia sobre fogo, uma chama eterna sobre uma montanha”. A materialização desse imaginário, no entanto, é um álbum que não soa tão coeso em torno de uma temática, mas sim algo mais heterogêneo. Não podia ser diferente, haja visto a reunião de grandes nomes com os quais o produtor esteve envolvido nos últimos tempos. Entre eles estão Anderson .Paak, George Clinton, Little Dragon, Tierra Whack, Denzel Curry, Shabazz Palaces, Thundercat, Toro y Moi, Solange, entre outros.

Flamagra traz alguns dos elementos que formam a assinatura de Flying Lotus: a música eletrônica IDM entrecortada pelo Jazz, que resulta numa sonoridade cósmica, tão texturizada que nos dá a impressão de que pode ser enxergada com o terceiro olho. Esse território, também semeado por artistas como J Dilla e MF Doom, é onde prosperou a alma maximalista de Ellison. Isso sem falar da vibe Afro Punk Futurista que, em geral, permeia seus trabalhos. No entanto, ao trazer para o seu ambiente já saturado uma lista tão grande de convidados, Flamagra soa ‒ diferentemente de seus outros discos até aqui ‒ como um álbum sem foco.

Por vezes, a união do produtor com seus convidados nos atinge menos como um diálogo e mais como duas pessoas tentando falar ao mesmo tempo em uma conversa bagunçada. Há, apesar disso, grandes momentos. Deles, destacam-se: a nostalgia de George Clinton, a voz de mormaço de .Paak, o spoken word arrepiante de David Lynch, as melodias decadentes de Denzel Curry e a melancolia em tom pastel de Solange. O encadeamento das faixas mantém-se seguro pela estrutura de batidas abafadas, pelo som grifado de vinil e pelos tique-taques cheios de brilho da percussão.

O clipe de “More” ‒ no qual assistimos a um Flying Lotus em versão de desenho animado ‒ dá a entender que o artista se sente mais ou menos como o monstro apocalíptico do final de Akira (1991), crescendo sem forma, com seus membros multiplicados pela própria força. Flamagra é denso, mas parece corresponder ao conceito que construiu para si próprio, perpetuando-se como algo além do horizonte, como um mito fantástico: um fogo que queima eternamente no alto de uma montanha inexistente.

(Flamagra em uma música: More)

 

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BOM PARA QUEM OUVE: MF Doom, Thundercat
ARTISTA: Flying Lotus
MARCADORES: Hip Hop, Jazz

Autor:

é músico e escreve sobre arte