Resenhas

Future Islands – People Who Aren’t There Anymore

Em sétimo álbum, banda americana vai das angústias às alegrias e explora novas conexões sonoras sem perder sua identidade

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Ano: 2024
Selo: 4AD
# Faixas: 12
Estilos: Synth-Pop
Duração: 43'
Produção: Steve Wright, Future Islands

Em quatro anos muita coisa pode mudar. Em 2020, o Future Islands lançava o ótimo As Long As You Are, registro de um synth-pop refinado e pincelado de alegria e paixão como até então não se ouvia na obra do grupo. A passagem de quase meia década foi uma reviravolta na vida dos integrantes, incluindo términos de relacionamento difíceis e, claro, uma pandemia no meio do caminho. Um título como People Who Aren’t There Anymore já anuncia um pouco do que ouviremos no disco, que, de certa maneira, reconta de forma fragmentada o que aconteceu na vida pessoal dos membros ao longo desse intervalo.

As mudanças não são somente metafísicas. Herring retornou a Baltimore, após uma temporada na Suécia, enquanto Cashion foi para Los Angeles. Em meio às incertezas geradas pela pandemia e o cansaço de uma turnê quase ininterrupta desde a formação da banda, nasce um registro que carrega muita coisa, com uma carga emocional que também parece inédita na carreira do quarteto. Esse turbilhão emerge em um mar de arranjos de sintetizadores brilhosos, baterias que propulsionam melodias cativantes e, é claro, o vocal único de Samuel, com sua profundidade e extensão que envelhecem como vinho. É aquela fórmula clássica de um bom synth-pop: letras melancólicas por natureza canalizadas em arranjos pulsantes e animados.

O grupo apresenta de forma eloquente os altos e baixos desse período, mas sem perseguir apenas o lado mais doloroso dos acontecimentos. Há dor, mas há devoção; há sacrifício, mas alegria, gratidão; separação e luto. Samuel e companhia navegam por esses sentimentos de forma mais madura em versos comoventes como “I belong to you / When you take my hand, I understand / Where you end, that’s where I began” (da apaixonada “Deep In The Night”) ou “I don’t wanna say goodnight, because every day without you feels one closer to goodbye” (na tocante “Say Goodbye”). O luto surge em “Corner of My Eye”, uma das faixas que Herring mais entrega na interpretação (em versos como “So I’ll just thank you / ‘Cause I can’t take you or make you/ I just have to move on”).

Em questões sonoras, esse talvez seja o disco em que o grupo mais se aventure por diferentes campos – sem, entretanto, querer reinventar a roda. Existe a perfeição pop dos singles “Say Goodbye”, “The Tower” e “King of Sweden”, um flerte com o funk nigeriano dos anos 1970 em “Iris”, algo do synth-punk em “Give Me The Ghost Back”, e também há espaço para as sofridas baladas de “Deep in the Night” e “Corner of My Eye”. Não há exatamente um grande salto em relação ao que o grupo já fez, porém parece haver maior confiança em conectar estilos diferentes – o que incrementa as narrativas cantadas.

(People Who Aren’t There Anymore em uma faixa: “King of Sweden”)

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts