Resenhas

Giovani Cidreira – Nebulosa Baby

Imprevisível e autoral, terceiro trabalho do artista baiano dá passo experimental com carisma e personalidade

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Ano: 2021
Selo: RISCO
# Faixas: 13
Estilos: Indie, Alternativo
Duração: 40'
Produção: Benke Ferraz

Há grandes chances de, em poucos minutos após o play, o ouvinte se dar conta de que Nebulosa Baby não é bem o álbum que se esperava que ele fosse – mas também, convenhamos, ninguém mandou tentar alinhar sua expectativa com o espírito livre que é Giovani Cidreira.

A obra não traz uma coleção de canções fechadas, redondinhas, como as de sua estreia em Japanese Food (2017) – disco que colocou o artista baiano entre os mais promissores da cena de cantores e compositores da São Paulo à qual ele havia recém-chegado. Nebulosa Baby tem cara de “disco de produtor”, com faixas que você não sabe se deve encarar como músicas propriamente ditas ou vinhetas, muitos convidados a cada poucos minutos e uma sonoridade que não tem vergonha de ser chamada de experimental.

Diferente de um livro ou filme com começo, meio e fim, o álbum se desenrola como um mapa. Giovani é nosso guia pelos territórios de tantos sons eletrônicos, ao passo em que ele se faz o ponto turístico para visitação e, ao mesmo tempo, é o próprio cartógrafo (já que o trajeto é todo feito em suas composições). É aí que o termo autoralidade vem à mente e nos damos conta de que todo aquele pessoal presente no disco está ali para interpretar, em um sentido quase teatral – as vozes do autor em seus desdobramentos poéticos.

Seja Alice Caymmi, Luiza Lian ou Luê, seja Ava Rocha, Josyara ou Jadsa, da fala inicial de Jup do Bairro ao vocal de Dinho Almeida (Boogarins), são todos atores na tragédia que Giovani propõe e protagoniza, sendo ora um Frank Ocean tropical (em seus vocais processados que combinam tão bem com nossos tempos distópicos), ora um Jorge Ben contemporâneo (que sabe abrir um sol com seu suingue até na mais prosaica das cenas).

Nebulosa Baby é essa viagem toda. É o arranjo melodramático de “Claridades” ao lado do caos pop da faixa-título, ou a intensidade sonora de “Luzes da Cidade” que começa logo após a balada meio sensível, meio irônica “Pode Me Odiar”. É uma obra de identidade tão forte que às vezes chega a nos inquietar, embora seu carisma e honestidade sejam palpáveis. É diferente das expectativas que rondam a tal cena autoral paulistana, mas para quem a conhece, é cativantemente familiar – beira o senso de pertencimento.

(Nebulosa Baby em uma faixa: “Sangue Negro”)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.