Resenhas

Indigo De Souza – All Of This Will End

Em terceiro disco, cantora vai do rock noventista ao synth pop enquanto desagua angústias com crueza ímpar

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Ano: 2023
Selo: Saddle Creek
# Faixas: 11
Estilos: Indie Rock, Indie Pop
Duração: 32'
Produção: Indigo De Souze, Alex Farrar

Indigo De Souza constrói músicas como forma de expor emoções à flor da pele. Poucas vezes há rodeios ou grandes construções poéticas para dizer que ela está zangada ou abatida, alegre ou mal-humorada. Ela vai direto ao ponto, com letras agudas, abordagem que já fica evidente na abertura de seu terceiro disco, All Of This Will End, em que ela diz “You’re bad / You suck / You fucked me up”. A voracidade lírica é ponto mais forte da obra, gerando momentos catárticos e imediatos, e, ao mesmo tempo, nos causa desconforto e confusão, como em “I’m sad / I’m tired / I want my time back / You’re bad/ You suck”, tirada da mesma canção, “Time Back”.

Em seu terceiro registro, a cantora se permite ser ainda mais urgente do que em I Love My Mom (2018) e Any Shape You Take (2021), desaguando intensamente o que parecia guardado. Reflexões sobre o processo de “adultecer”, autoestima, ansiedade, depressão, relações descartáveis – tudo é despejado com uma crueza ímpar. É uma sessão de autoanálise, mas, essencialmente, uma meditação profunda sobre as tristezas da vida – salpicadas por momentos felizes ou ao menos agridoces (“Smog” e “The Water”). No fim das contas, Indigo, aos 25 de anos, exprime dores e angústias de uma geração: “And I’m not sure what is wrong with me / But it’s probably just hard to be a person feeling anything (…) I’m a growing girl / My ups and downs are natural.” (“Parking Lot”).

Se existe alguma unidade temática no disco, o mesmo não pode ser dito sobre o aspecto sonoro. Há de tudo um pouco por aqui, desde o rock noventista reinventado por artistas como Soccer Mommy, Snail Mail e Julien Baker, até uma belíssima balada ao piano – e esses extremos aparecem em sequência, com o duo de fechamento “Not My Body” e “Younger & Dumber”. O registro ainda segue calcado em contrastes com “You Can Be Mean”, que mistura um rock garageiro com synth pop (enquanto canta versos como “I can’t believe I let you touch my body / I can’t believe I let you inside”), seguida de “Losing”, um quase folk acompanhado por timbres de sintetizador.

Em “Wasting Your Time”, as frustrações chegam embaladas por riffs angulares e timbres abrasivos na guitarra – até a voz surge aqui agressivo, quase distorcida. A surpresa fica por conta de “Smog”, que abandona as guitarras e parte para uma viagem eufórica recheada de synth pop, remetendo a alguns momentos mais dançantes do M83. Entre o caráter confessional (“I talk too much when l’m nervous / I give too much away”) e algum otimismo (“I come alive, it’s the right time to really start having fun”), Indigo mostra diferentes facetas de sua emoção criadora. O mesmo acontece com “The Water” e sua vibe quase Baroque Pop.

Talvez o cume emocional do repertório seja o single “Younger & Dumber”. Escolhida para encerrar a obra, a faixa o faz de maneira majestosa, como se Indigo tivesse um diálogo dentro da sua cabeça, falando com sua versão imaginativa, mais jovem e inexperiente. Em uma balada lenta e delicada, ela canta de forma melancólica e poderosa – e vulnerável . (Ainda mais quando canta com a voz trêmula a frase “And the love I feel is so powerful / it can take you anywhere”). Aqui, ela parece dizer a si mesma que é compreensível cometer seus próximos erros, enquanto busca o próprio perdão por erros da adolescência. E All Of This Will End não busca respostas, mas faz perguntas precisas que criam um retrato coeso de uma artista tentando navegar pela incoerência que é a vida.

(“All Of This Will End” em uma faixa: “Younger & Dumber”)

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts