Resenhas

Itasca – Imitation Of War

Com influências da psicologia junguiana, quinto álbum da cantora mergulha no oeste americano em meio a acid folk de texturas experimentais

Loading

Ano: 2024
Selo: Paradise of Bachelors
# Faixas: 10
Estilos: Acid Folk, Country
Duração: 40'
Produção: Robbie Cody, Kayla Cohen

“Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta”, escreveu certa vez o psicoterapeuta suiço Carl Jung. É esse mote que parece inspirar Itasca, que compôs Imitation of War sob influência dos escritos de Jung: um álbum no qual as letras, cheias de imagens arquetípicas, cenários surreais e forças misteriosas, se assemelham a uma viagem interior.

Itasca é a identidade musical da guitarrista, cantora e compositora Kayla Cohen, residente em Los Angeles. Instrumentista safa, dedilha as cordas com agilidade, enquanto escreve com uma poesia rebuscada, que tem influência da filosofia hermética e da literatura barroca. No entanto, a herança sonora de Imitation of War vem de outro lugar e se inclina mais para algo mais hippie setentista, evocando o acid folk e utilizando texturas sonoras desconstruídas e experimentais.

Assim como os álbuns antecessores de Itasca, Imitation of War possui uma alma pastoral. Situado entre o folk e o country, se assemelha aos trabalhos de suas conterrâneas Vera Sola ou Allegra Krieger, por exemplo. Da mesma forma, o olhar de Itasca se volta para a mística paisagem dos Estados Unidos, buscando, nos seus cânions e desertos, metáforas espirituais; enxergando, ao invés de areia e calor, miragens tremulantes e fatas morganas.

Vale dizer, ainda assim, que Imitation of War se desenrola como um clássico do rock, mas com clareza e um acento inconfundivelmente contemporâneo. A guitarra é a protagonista do álbum, uma Gibson SG que reverbera cheia de chorus, sugerindo uma influência vinda de bandas clássicas de rock como Grateful Dead ou Thin Lizzy no começo de carreira. A formação, inclusive, é bastante convencional e conta com guitarra, baixo e bateria, tudo articulado em arranjos afinados, interagindo entre si. Sobre eles, Kayla Cohen canta como se declamasse poesia, algo como Joni Mitchell em Blue.

Em Imitation of War, Kayla Cohen viaja por um deserto fantasmagórico interior e, em sua jornada, concretiza o álbum mais bem amarrado de sua carreira. Um passo de maturidade em relação aos antecessores Spring (2019) e Open to Chance (2016) como compositora, instrumentista e também diante da produção – feita em parceria com Robbie Cody. Aqui, Kayla Cohen se coloca como uma poetisa do oeste americano, traçando sua própria mitologia pessoal enquanto busca por fantasmas do passado ao seu redor.

(Imitation of War em uma faixa: “Imitation of War”)

Loading

ARTISTA: Itasca

Autor:

é músico e escreve sobre arte