Resenhas

Jamila Woods – Water Made Us

Terceiro disco da cantora de Chicago mergulha em alegrias e tristezas do amor enquanto amplia o típico R&B por novas ondas sonoras

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Ano: 2023
Selo: Jagjaguwar
# Faixas: 17
Estilos: Neo Soul, R&B, Jazz
Duração: 45'
Produção: Chris McClenney

Water Made Us é um disco e tanto. A obra revela um caminho bem diferente do que foi adotado pela cantora e poetisa Jamila Woods em seu trabalho anterior, LEGACY! LEGACY! (2019) – álbum que tenciona questões profundas e poderosas sobre política, raça e patriarcado. Este novo registro nos convida a uma jornada profundamente pessoal e que agora fala, especialmente, sobre amor. Sem exatamente traçar um arco narrativo de um relacionamento específico, o repertório nos guia por momentos diferentes da paixão, do lado mais doce ao mais amargo, das lembranças mais ternas às lições mais duradouras.

A cantora de Chicago retorna em uma abordagem bastante fluida e intimista. Sem nos poupar de sua honestidade, ela explora diversos estágios do amor – e de certa forma nos diz, em seus versos, que devemos abraçar, em igual medida, a alegria e a dor que a paixão pode nos proporcionar. A partir de musicalidade envolvente, Jamila nos leva por um passeio versátil, indo do R&B autotunado em “Send A Dove” a um delicado folk desplugado em “Wolfsheep”, passando por um efervescente dream pop em “Boomerang”.

Em “Bugs”, faixa que abre a obra, vemos Jamila apaixonando-se em uma deliciosa mistura de soul e psicodelia. Ainda que hipnotizante e profundamente cativante, a cantora já deixa claro desde o início que esse relacionamento é imperfeito – mas que isso não a impede de se entregar a ele. Essa complexidade segue em músicas como “Tiny Garden,” “Practice,” “Wreckage Room” e “Thermostat”, nas quais ela se aprofunda na construção, destruição e reconstrução dessas relações.

O registro conta com um total de 17 músicas (somando pouco mais de 45 minutos) e Jamila não está sozinha nessa. Além do produtor e antigo colaborador Chris McClenney, a artista conta com participações de Duendita em “Tiny Garden” e a contribuição de seu conterrâneo, Saba, em “Practice”. O repertório ainda traz interlúdios como “let the cards fall” e “I Miss All My Exes”, que nos jogam em um ambiente ainda mais pessoal – a segunda é uma ode a momentos compartilhados com paixões passadas, uma lição a respeito das celebrações que o amor permite, mesmo em meio a problemas.

Water Made Us escapa da ilusão ou do cinismo das paixões ao se aprofundar nas possibilidades de crescimento que as imperfeições acarretam. É uma reflexão cheia de sinceridade que vai do auge da felicidade às separações mais dolorosas – como um lembrete de que, no final das contas, o amor é uma jornada de autodescoberta a qual vale a pena ser vivida em toda sua intensidade.

(Water Made Us em uma faixa: “Tiny Garden”)

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ARTISTA: Jamila Woods

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts