Resenhas

Supervão – TMJNT

Segundo EP de trio gaúcho desliza em excesso de justificativas e repetições estereotipadas

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Ano: 2017
Selo: Lezma Records
# Faixas: 5
Estilos: Experimental, Technopunk, Synthpop
Duração: 20:01
Nota: 3.0
Produção: Lezma Records

Supervão é uma banda profunda. Em 2016, o trio gaúcho nos apresentou uma espécie de primeiro ensaio sobre delírios, cosmogonias e psicodelismos eletrônicos sob a alcunha de Lua Degradê, um EP tímido que revelou um talento interessante em dispensar a rigidez de rótulos de gêneros e misturá-los como bem entender. Technopunk, Electroindie e Neu Tropicália são algumas dessas criações frankensteinianas que, claramente, evidenciam referências fortes da Eletrônica de Totally Enormous Extinct Dinossaurs e da Psicodelia de Animal Collective. Um ano se passou e o grupo ressurge com TMJNT, segundo EP que chega como um reflexo do momento caótico que a política brasileira vive atualmente e, com isso, confirmamos o que dissemos no começo, porém com um adendo: esta é uma banda profunda, mas talvez até demais.

Este EP traz as mesmas qualidades que fizeram a sonoridade do grupo se destacar no cenário eletrônico nacional: beats dançantes, texturas calmas, timbres psicodélicos, arranjos hipnóticos, está todo aí. O single VMDL, por exemplo, revela uma construção bastante minimalista que trabalha a favor de trazer novas sensações aos ouvintes entusiastas do primeiro EP sem desrespeitar os pilares que estabeleceram a sonoridade da banda. Entretanto, em meio a tantas justificativas sobre a “fuga em meio ao caos mental e social” que este disco pode revelar, ficamos em dúvida se de fato as cinco faixas do EP produzem tamanha reflexão ou se, de fato, não alcançamos este raciocínio tão diretamente. Em outras palavras, é confuso compreender se TMJNT é uma obra de arte que falha em se justificar ou se sua representação não traduz plenamente aquilo que gostaria.

É claro que podemos encarar essa dualidade como uma estratégia para o ouvinte se fixar ao disco e tentar decifrá-lo. Mas, ao mesmo tempo instigante, também é frustrante não conseguir decifrar esta grande confusão psicodélica que se desenrola no curso das cinco faixas. Reunião, por exemplo, cria texturas interessantes que expressam aquele caos mental mencionado, mas acaba se perdendo na mesmice de um beat repetitivo que não chega a trazer plenamente aquele sentimento hipnótico da Psicodelia Eletrônica. Já Crise Civil é mais direta em trazer o tema da crise política, mas se apega excessivamente ao minimalismo, evoluindo pouco em seus quase cinco minutos de faixa.

Em seu segundo EP, Supervão traz uma obra que se mostra tão confusa quanto paradoxal. A mensagem está em algum lugar do ambiente criado por estas faixas e o talento do trio é inquestionável, mas certamente não reflete seu melhor momento. De qualquer forma, o futuro ainda pode guardar coisas boas para o grupo, usando este pequeno deslize como plataforma de crescimento.

(TMJNT em um disco: Guerra Civil)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique