Resenhas

Yves Tumor – Praise a Lord Who Chews but Which Does Not Consume; (Or Simply, Hot Between Worlds)

Misturando indie, eletrônica e pós-punk, quinto disco do artista americano eleva sua poesia e seu volume a uma nova potência

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Ano: 2023
Selo: Warp Records
# Faixas: 12
Estilos: Indie, Post-Punk, Experimental
Duração: 37'
Produção: Elliott Kozel, Noah Goldstein, Psymun, Sir Dylan e Yves Tumor

Praise a Lord Who Chews but Which Does Not Consume; (Or Simply, Hot Between Worlds) dá continuidade ao que Yves Tumor apresentou em Heaven to a Tortured Mind (2020) – ou seja, questionamentos pessoais do artista a respeito de espiritualidade e religiosidade acompanhados de arranjos que misturam estéticas contemporâneas em uma musicalidade excelente. Quem chega ao novo disco sem ter escutado o anterior compreenderá a obra e o artista perfeitamente – e talvez aproveite ainda mais a sua arte.

Isso porque Praise a Lord… é um trabalho ainda mais “impressionante” – no sentido mais puro do termo – do que seus anteriores. Yves parece ter elevado tudo, da poesia ao volume das músicas, a uma nova potência. O álbum é narrativo e linear, mas há tanto acontecendo em cada uma de suas faixas e em como uma puxa a próxima que a audição pode até ser, em alguns momentos, estonteante. Os sentimentos que o levaram a compor essas músicas, pelo jeito, também.

Seus versos são ora muito descritivos para contar pequenas situações, ora vêm como se Yves tentasse montar um raciocínio que ele ainda não verbalizou, mas já entendeu. É o tipo de narrativa que se constrói mais por sua força expressiva do que pela eloquência do locutor. Mas o artista é fluente em criar uma poesia de poucas estrofes que se repetem e têm seu sentido revelado já na superfície, mesmo com tantas camadas abaixo dela para serem decifradas.

É aí que toda a produção musical entra em jogo e nos entrega momentos tão potentes e tão atordoantes quanto a lírica. “Heaven Surround Us Like a Hood” mistura gravações de uma criança com o vocal de Yves e muita, mas muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Na narrativa de Praise a Lord…, ela serve como um dos momentos mais arrebatadores do disco e eleva a audição para muito além do baixo pulsante e percussão acelerada das primeiras faixas.

O álbum parece se ligar a uma linhagem do pós-punk que fica muito bem na voz de Yves, que se aproveita aqui de uma atmosfera tão indie rock quanto eletrônica – a comparação pode ser absurda, mas é como se o Gorillaz quisesse fazer um som mais sério. Vale dizer que o artista acompanhou Nine Inch Nails em turnê, e essa influência é sentida em diversos momentos do disco (praticamente nele inteiro). Já sua figura sensível e um tanto misteriosa como intérprete remete a nomes como Moses Sumney e até Sufjan Stevens.

Esses artistas têm muito a ver também com a busca de uma espiritualidade possível – ou uma resposta bastante humanizada a uma religiosidade utópica que muitos insistem em ter –, como Yves vem trabalhando de outros tempos. Ele comenta a educação que respondeu dos pais logo na primeira faixa (“God Is a Circle”) e fala de suas preces para um “céu vazio” logo em seguida (“Meteora Blues”). Na última faixa, “Ebony Eye”, ele conta de um romance vivido “nas escadas do paraíso” e conclui: “I’ve found my holy place”.

Para chegar a esse ponto, Yves Tumor canta de vivências e questionamentos que moldaram suas perspectivas do que é sagrado e do que é ser humano. Praise a Lord… envolve, comove e até encoraja o ouvinte a pensar nas relações – familiares, amorosas, ou de amizade, e também nosso envolvimento com o mundo que nos cerca e que formam a espiritualidade do indivíduo. Ser gente é isso, é experimentar o universo (interior ou não) na mesma intensidade que essas músicas ostentam, tão exageradas como o título do disco.

(Praise a Lord… em uma faixa: “Heaven Surrounds Us Like a Hood”)

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ARTISTA: Yves Tumor

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.