Resenhas

Trupe Chá de Boldo – Presente

Terceiro disco do coletivo paulistano traz sua essência característica em arranjos inspirados

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Ano: 2015
Selo: Gustavo Ruiz
# Faixas: 13
Estilos: MPB, Rock Psicodélico
Duração: 47:00
Nota: 3.0
Produção: Trupe Chá de Boldo

A vida parece ter chegado ao coletivo Trupe Chá de Boldo: filhos, compromissos, luto(recentemente o membro da banda, Rayraí Galvão faleceu) e carreiras solo aconteram nos últimos anos, no entanto todos os membros parecem caminhar ainda sob o mesmo ideal de simplicidade. Um claro contraste à riqueza sonora que surge das treze faixas, em arranjos muitas vezes surpreendentes e inusitados, de Presente, o primeiro trabalho da banda sem participações especiais, uma composição com os dedos e olhares de todos os seus membros.

Engana-se quem pensa que a essência se perdeu no processo, se antes André Abujamra, Tatá Aeroplano e Leo Cavalcanti, entre outros, davam mais sabor a mega banda, agora as coisas são resolvidas internamente em um disco que esbanja as melhores características do coletivo: a leveza, o gosto pela festa, a excentricidade e o irrestível sorriso de canto de rosto quando ouvimos faixas como Lampejo ou a deliciosa Moremáximo. Aliás, ambas apresentam um característica fundamentalmente diferente neste álbum – a espacialidade é sentida através de arranjos instrumentais ousados e emocionates, parecendo que cada instrumento tem finalmente a sua voz própria.

Tal característica chama mais atenção que as próprias composições, salvo algumas exceções (como o dançante forró Diacho – “pra que tanto Armani no Armário?/ se o melhor da vida a gente faz sem renda, se renda ao calor” – talvez um dos grandes pontos altos do trabalho, mas que não teria a mesma evidência sem o triângulo, o trabalho de vozes e os sopros que trazem suingues únicos à faixa, ou seja, a síntese que a Trupe procurava encontrar aqui). Amores Vão poderia muito bem ser um hit de balada pela sua introduçã,o mas a escolha pela sempre certeira teatralidade é que traz a sensação de que estamos diante de algo grandioso e divertido.

A vida parece até ter chegado melancólica para seus membros, principalmente por faixas mais calmas e menos Pop, como Jovem Tirano Príncipe Besta ou O Fim é Só o Começo mas o caldeirão de influências em uma música claramente enraizada nas diversas músicas populares brasileiras (MPB), não poderia não ocasionar em festa ou romantismo feitos nos moldes da Trupe. Aos Meus Amigos é brasileira e excêntrica no meio de seus acordes distorcidos cantados – “salve o amor, salve a paixão/ salve o cantar de um coração” – enquanto Smex Smov e Meu Tesão é Outro são convites à dança e ao deleite coletivo: é impossível se manter com os pés parados no chão ao ouvi-las.

O som da Trupe sempre se mostrou um convite irrestível aos seus concertos para que ao vivo, tais arranjos pudessem ser sentidos em sua essência pelo público. Em Presente, temos uma parte do tempo que não poderia ser mais adequada aos estágio que a banda se encontra: leve e ciente de um som que não foge de suas origens mas que ao ser ouvido, continua sendo único e caractertístico. Podemos perceber como a música do coletivo reverberou pela cena paulistana nos últimos dez anos e, se a sensação que você tem ao ouvir seu terceiro disco é de que já ouviu isso recentemente, saiba muita coisa atual teve influência de Trupe Chá de Boldo. Só não deixe de ver este show para sair de alma lavada e entender esta festa.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.