Resenhas

SLVDR – Presença

Disco de trio carioca é um fascinante e curioso organismo vivo para se dissecar

Loading

Ano: 2016
# Faixas: 9
Estilos: Math Rock, Instrumental, Post-Rock
Duração: 33:02
Nota: 4.5
Produção: Alex Miranda e SLVDR

É curioso como com um pouco de inventividade e criatividade pode fazer uma enorme diferença em um gênero tão caricato quanto o Math Rock. Famoso por impressionantes técnicas de tapping em guitarras, contratempos malucos e virtuosismos mirabolantes, o gênero reuniu grandes entusiastas, mas os sucessivos discos pareciam ser versões cada vez mais emboladas de um mesmo esteriótipo.

Felizmente, há bandas que tentam desviar deste caminho e SLVDR é um nome que segue o experimentalismo à risca, fazendo com que Math Rock seja apenas um elemento da incrível e imprevisível mistura que é o seu som. Com singles e um split fantástico em sua discografia, o trio carioca reuniu forças e esforços para nos apresentar não só um disco de estreia, mas um universo totalmente inexplorado e desconstruído.

Como dito, Presença tem muita influência do Math Rock, portanto irá agradar com certeza os assíduos fãs do gênero. Porém, o que parecia ser um trabalho regado a estrutura rígidas de compassos compostos se revela um grande experimento no qual os resultados são imprevisíveis. A aura meio Lo-fi compõe um cenário de puro caos e os efeitos de guitarra e baixo tendem a nos desorientar, como se, ao menor sinal de conforto, a música nos catapultasse para outro cenário, tão doido e fantástico quanto o anterior. Quase como se fosse um mundo das maravilhas de SLVDR.

Não é apressado dizer que este é um disco psicodélico, mas não no sentido óbvio que Tame Impala ou Boogarins dão ao termo, mas na forma como ele evoca sensações e brinca com nossos sentidos, de forma a capturar com precisão imagens abstratas do nosso subconsciente. Fórum começa pintando camadas e camadas e complexidade melodiosa, mas, em determinados momentos, as coisas começam a se desconstruir, formando uma textura grotesca fantástica de se experimentar. Já Um Brevíssimo Conto Sobre a Humanidade dos Dias nos transporta para um mundo sem chão, como se tivéssemos elementos à deriva da gravidade dentro da cabeça de alguém. Bouken é de uma suavidade fascinante, mas a tensão criada nos faz pensar que podemos a qualquer momento tomar um soco na cara, o que de fato ocorre mais para frente.

Presença é um registro incrível que merece grande destaque principalmente pela forma como se revela ser um organismo vivo, onde cada música possui uma função própria, tal como os orgãos humanos, só que de uma grande criatura. Cada escutada rende diferentes análises e interpretações, portanto é um trabalho que nunca será apreciado da mesma forma, nem pela mesma pessoa. Caótico, desconsertante e brilhante.

(Presença em uma faixa: Il Momento Di Vazzare)

Loading

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique